Thursday, September 26, 2013

Bits and coisas

The first one is in English, the rest is in Portuguese.

Brussels threatens France

Yay! Finally, we see our Knights of the Innefective Table moving! Could it be the EU is stepping in to control a serious problem in a timely fashion, before it gets out of hand?

Not really, no.

Just as with Austria, in 2000, what moves our bastion of incompetence is a pseudo-concern for the minorities and the defense of the freedom of movement in the European space, due to anti-gypsy/roma statements by a French minister.

As is usual with the EU, the actual causes of the problem, which begin right "at home", in Romania and Bulgaria, won't be addressed. The EU supposedly financed projects worth several dozen million euros to integrate the roma in the romanian/bulgarian communities; however, judging by my experience in Portugal, I'll bet the effective follow-up and oversight on those projects was very close to none.

Anyway, it's the EU at its best: Failing to address the causes of a serious problem, and instead threatening to apply force in sweeping some dirt unde the rug.

Agora, em tuga.

Crato, pá, parabéns! Uma semana depois do arranque das aulas, já não ouço máquinas nem cheira a alcatrão na escola aqui em frente. Nada mau... Agora, é só resolveres todos os outros "casos pontuais".

O valor da economia paralela

Mais uma vez, a economia paralela é notícia. Mais concretamente, a sua dimensão. E, como de costume, lá vêm os habituais sermões sobre a responsabilidade de cada um de nós, sobre a necessidade de mudança de mentalidade, etc, etc, etc.

Eu digo o mesmo de sempre - o exemplo vem de cima. Querem resolver o problema? Acabem com o sigilo bancário, promovam a obrigatoriedade de publicação de rendimentos, acabem com as Holandas, as Irlandas e as Ilhas Caimão desta terra, e depois vamos lá tratar desta história das mentalidades.

First things, first.

PPPs

Já disse por diversas vezes que o Estado deveria fazer um corte a sério nas PPPs e, se isso não se revelasse exequível, cancelá-las. Cada vez que defendo isto, lá tenho que ouvir a conversa que isso é impossível, existem contratos que o Estado tem que honrar, mais a Lei e os tribunais e todas aquelas coisas que até fariam perfeito sentido num qualquer País das Maravilhas que não o nosso.

Mas, como já é costume, eu sigo a minha regra simples - esperar. Já por diversas vezes vimos a opinião que este governo tem sobre a Lei e os tribunais, e agora temos mais dois exemplos de rajada.

Lei da cobertura de campanha
Aparentemente, Passos está aborrecido porque os seus amigos não aparecem na TV e não temos as imagens de caminhadas e distribuição de sacos de plástico e autocolantes para permitirem aos eleitores uma "escolha informada". Já para não falar nos momentos edificantes em que alguém se cruza com a referida caminhada, tenta encetar um protesto e é imediatamente silenciado por um bando de gente a agitar bandeiras aos gritos e fisicamente afastado do local, para que não manche a novela das 20:00.

A lei em si é irrelevante, porque os partidos e os seus candidatos a tornaram irrelevante. Não consigo descrever o valor que dou à cobertura das eleições (sejam elas locais ou nacionais), apenas sei que tende para menos infinito. E nisto incluo os famigerados debates; sobre quem utiliza os "debates" para decidir em quem votar, ocorrem-me apenas duas letras: I-O.

O que tem isto a ver com PPPs? Simples. É mais um exemplo de como, quando se quer, as leis são alteradas.

40 horas na Função Pública
O Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos interpôs uma providência cautelar no Tribunal Administrativo e Fiscal de Lisboa, para impedir que entrasse em vigor o aumento do horário de trabalho para 40 horas.

E o que é que o governo se prepara para fazer? Invocar o interesse público para fazer o override da providência cautelar.

O que se demonstra é que este governo, tal como todos os outros, altera o que quer. Se não tratou ainda das PPPs é porque não quer.

EDP processa

O Amigo Chinês está aborrecido.

Vejam lá que parece que vai ter que devolver dinheiro aos clientes por causa de erros no seu equipamento. Onde já se viu uma coisa destas? Como o Amigo Chinês não está habituado a isto de ter que respeitar os direitos dos outros, lá mandou Catloga & Cia. processar a ERSE.

Era só o que faltava. Qualquer dia, se um lote de automóveis tivesse um problema, iam obrigar a marca a recolhê-los para o resolver, querem ver? Está tudo doido, não?

Além disso, o Amigo Chinês não gostou da interpretação do Estado relativa a uma lei sobre a tarifa social, e quer fazer valer a sua interpretação dessa mesma lei. O que, na prática, equivale a mudar a lei. O que também se percebe, se tivermos em conta que estamos a lidar com o Amigo Chinês.

As interpretações divergem num ponto - quem deverá pagar a tarifa social. De um lado, diz-se que é o produtor; do outro, o consumidor. Deixo como exercício ao leitor atento determinar qual será a interpretação do Amigo Chinês.

Mas, no problem, certo? É só mudar para a concorrência! Ah, não...? O Estado vendeu a infraestrutura de produção ao Amigo Chinês, e a concorrência de que se fala é uma aldrabice, pois o Amigo Chinês vai sempre receber, seja quem for o fornecedor de energia...?

Vely typical of us...

Friday, September 20, 2013

Educação... Lembrei-me do Guterres, não sei porquê...

Ora aí está o camarada Crato em todo o seu esplendor.

Começo por dizer que hoje é 6ª feira. Aqui em frente a minha casa, tem sido uma semana de aulas, embalada pelo barulhos dos camiões e das máquinas e perfumada pelo aroma do alcatrão.

Segundo Crato afirmou há uns dias, está tudo a correr na normalidade, à excepção de uns "casos pontuais". Deve ser isso, então; em frente a minha casa tenho um exemplo de "pontualidade" do Crato.

Mais "engraçada" ainda é a questão dos manuais de Português e Matemática. O Ministério da Educação Cratino (MEC) introduziu alterações a estas duas disciplinas; mas garantiu que os manuais escolares existentes continuavam a poder ser utilizados, i.e., que os pais não eram obrigados a comprar os novos manuais.

O que o MEC se esqueceu foi de dizer que a coexistência de diferentes manuais nas salas de aulas tem que ser gerida pelos professores, i.e., é através de um esforço adicional dos professores que se garante essa coexistência.

Vejamos então a performance do camadara Crato:
  • Apresenta uma solução que não resolve nada, mas passa o esforço de a implementar para terceiros.
  • Fica bem na fotografia, pois diz aos pais, apertados em tempo de crise, que não precisam de comprar manuais.
  • Apesar do ponto anterior, fica bem com os amigos das editoras, pois, a confirmarem-se as denúncias de pais e professores, o mais certo é haver muitos pais que vão fazer o sacrifício para que os seus filhos não tenham um handicap em duas disciplinas de exame.

Isto, meus caros, é um verdadeiro case-study de "solução" típica de líder tuga:
  • Não resolve nada.
  • Obriga os colaboradores a desperdiçar esforço (e, portanto, produtividade).
  • Incide sobre algo que é essencial para as pessoas, o que garante receita aos amigos que vendem esse bem essencial.

É apenas mais do mesmo, seja dos líderes públicos, seja dos privados, principalmente dos privados que têm no Estado o garante do seu negócio. Afinal, quem tem um rendimento máximo garantido, não precisa de "fazer bem", apenas de "fazer acontecer".

Thursday, September 19, 2013

Europeans, the slow learners

Now, don't get me wrong, my fellow Europeans, but... you're a bit slow on the uptake, aren't you...?

After being pretty much robbed blind for 25 years, you're coming back for more, to the tune of 21K million euros in 6 years. Jesus!

Pray, tell... what exactly are you expecting to be different, this time? Have you required better safeguards? Are you - finally - going to take an active role in auditing the expenditure?

Or are you just shoving some more money here, and, 10 years down the line, complain you've been robbed... again?

Germany may be headed in the right direction, with its anti-euro party. Yes, I know. It will be catastrophic for Portugal, and I shouldn't be saying it's the right direction.

But I'm tired of this. It's been 25 years being led by bullshit artists (both national and foreign), so maybe the only real solution for us is to crash and burn, and become the new Albania. It's pretty much what we've been for a large part of the XX century; and, in all honesty, it wasn't our own effort that got us out of that situation.

Ah, what do I know?

All I'm saying is this - the vast majority of this money that's heading our way is going to waste, in an exact copy of what happened in the previous 25 years. By "waste", I mean it's going to be spent on projects of dubious need (at best), at both inflated prices (that will inevitably go over-budget) and penalizing terms to the State, in order to fill the pockets of a restricted number of individuals.

And in 2020 the country won't be any different from what it is now, unless conjunctural circumstances force some extreme change upon us; but there's a higher probability of such an event pushing us towards Bangladesh, rather than Northern Europe.

In short, my fellow Europeans - you haven't learned anything.

Wednesday, September 18, 2013

The IMF's Oops...

First, two notes, in Portuguese (yep, I believe this is a first - the notes in Portuguese, the main subject in English).

Nota 1: Aparentemente, 2 fundos do BES investiram, desde 2008, +/- 2.2K milhões de euros exclusivamente em empresas do universo BES. Até aqui, tudo bem - investem onde quiserem, e a família acima de tudo. O divertido da questão é que os fundos em causa são apresentados como sendo de "risco reduzido". Obviamente. Afinal, é bem sabido que uma estratégia de quem procura reduzir o risco é investir tudo exclusivamente no mesmo cesto.

Nota 2: Bruxelas desconfia que o preço que a EDP pagou pelas concessões de exploração hidoreléctrica poderá não ter sido o "adequado". Isto aconteceu em 2007, e eles estão a abrir um inquério agora. E ainda falo eu mal da Justiça portuguesa.

Let's move on, shall we?

Those wacky folk at the IMF are at it again. This time, a team of their "technical staff" presented a report, "Reassessing the Role and Modalities of Fiscal Policy in Advanced Economies"; their conclusions in this report can be neatly summed up as: "Oops!"

Yep. The IMF team that authored this report looked at the policies put forth by the IMF in response to the crisis (policies enacted in countries like Portugal), and said that those policies might be "a wee bit" wrong on a number of fundamental aspects.

Upon reading this, I first felt outraged, thinking of all the lives damaged by these policies. But, as the outrage died and I considered all facts with a cooler head, I've reached a saddening conclusion - it's irrelevant.

At this point, these IMF staffers say they failed; and they present solutions. But their solutions are as worthy as their previous solutions, which they now say were incorrect.

As I said in previous posts, this is economy. Like most pseudo-sciences, economy likes to surround itself with the trappings of Science, in the hope that people will mistakenly assume it as such. But, unlike scientists, economists have no way of knowing, with any reasonable degree of certainty, whether or not they're right. They have no way to offer proof or demonstration of their theories, other, that is, than implementing said theories on the field and testing them on those countries that can't tell them to bugger off. Ergo, affecting real lives to prove or disprove their theories.

And there you have it: The IMF, the credible institution. Right "up" there, with the rating agencies, the Eurogroup, or Al-Qaeda. All similar, in the way they spout nonsense that is backed by no demonstrable evidence, and that everyone else is supposed to accept as an act of faith.

So, faced with this report that says "Our policies got some fundamental issues wrong", all I can say is: Welcome, IMF. Notice the vast amount of people here at this spot where you have just arrived. Notice, also, that all these people arrived at this spot (let's call it "conclusion", shall we?) waaaaaaay earlier than you did.

Not only does it speak volumes about your credibility, but also about your competence. But, what the heck! We can't demand much from those whose work is based on faith, can we?

Monday, September 16, 2013

Crato, amigo...

Tu que estás sempre em contacto com as escolas... Sabes aquela escola que tenho em frente a casa, onde tem havido obras todos os dias sem descanso...?

Vê lá tu o que tenho mesmo em frente a casa, neste preciso momento (09:00):
- Barulho de camiões e máquinas vindo da escola.
- Um monte de pais e alunos do lado de fora da escola, à espera.
- Buzinadela q.b. do pessoal que quer passar e não consegue, por causa dos carros em segunda fila, dos pais que vieram deixar os miúdos para o que deveria ser o primeiro dia de aulas.

Parabéns, Crato. É preciso ser alguém muito especial para atingir um nível destes.

Update: Crato, pá, isto é melhor que o que eu pensava. Os miúdos já entraram e os pais já se foram embora. Os miúdos estão nas salas de aula, e o barulho das obras cá fora regressou, em todo o seu esplendor.

Tenho mesmo que admitir, a gestão da equipa que lideras merece um case-study.

Update 17-09: Yep, ainda se ouvem as máquinas e marteladas.

Update 18-09: Hoje, para além do barulho das máquinas e dos camiões, temos ainda o inspirador aroma do alcatrão.

Sunday, September 15, 2013

O compromisso do amigo chinês

Aqui há um ano e tal, se bem se lembram, arranjámos (o País) um tacho fenomenal ao Catroga e a mais uns amigalhaços. Não repararam? Foi quando apareceu o nosso querido líder a afirmar que o país "devia muito ao Dr. Catroga".

Na altura, falou-se muito do excelente negócio "para ambas as partes", pois com a privatização da EDP aos chineses, o investimento chinês havia de chover cá pelo burgo. Aliás, a privatização incluía um acordo no qual a China Three Gorges se comprometia a certos investimentos.

Afinal, parece que o "compromisso" era apenas um "best effort", i.e., talvez um dia, quem sabe, se o alinhamento dos astros se conjugar, o investidor chinês possa considerar a possibilidade de discutir uma proposta de análise de investimento.

Agora, o governo português diz que "Por ocasião da privatização da EDP, foram criadas expectativas de investimento", e pediu ao amigo chinês um "ponto de situação" sobre esses mesmos investimentos.

Cheira-me que o amigo chinês, agora que já tem o que queria, lhe vai mandar um ponto final.

Saturday, September 14, 2013

Sem Educação e sem Juízo

O camarada Crato teve ontem um pequeno percalço com uma professora, em Viseu. Mais uma vez, as suas respostas demonstraram o seu carácter, o seu espírito democrático e, no caso desta que aqui apresento, a sua educação: "essa senhora devia estar com alguma vocação psicanalítica".

O camarada Crato afirmou ainda: "Estou em colaboração com os politécnicos, com as universidades, com as escolas". Não tenho dúvida disso. Porquê? Aqui em frente a minha casa tenho uma escola primária. Desde há semanas que tenho o "prazer" de ter um conjunto de indivíduos e máquinas a trabalhar das 08:00 às 19:00 (aprox.), todos os dias, incluindo Sábados e Domingos. E, mesmo assim, não conseguiram ter a obra pronta antes do início do ano lectivo. Ainda agora (Sábado) aqui estão a trabalhar.

É por isso que não duvido do que disse o nosso Educador-Mor. Este padrão de gestão (trabalhar todos os dias, sem descanso, e mesmo assim falhar o objectivo) assenta-lhe que nem uma luva. Bom, a bem da verdade, assenta-nos a todos, como povo. Mas, como diz a regra, a responsabilidade encontra-se no topo. Se quando as coisas correm bem são os gestores de topo que recolhem os louros, não esperem que, quando correm mal, eu vá pedir responsabilidades ao porteiro.

Anyway, já chega de fait-divers...

Os nossos juízes continuam a demonstrar o motivo pelo qual a Justiça portuguesa se destaca das suas congéneres europeias. E, mais uma vez, no Tribunal da Relação do Porto, que parece ser um caso exemplar da qualidade de Justiça que temos cá pelo burgo. Neste caso, trata-se de um psiquiatra que teve relações sexuais com uma paciente grávida. Citando a notícia:
dois dos juízes desembargadores entenderam que o facto de ele ter agarrado na cabeça da doente e lhe ter introduzido o pénis na boca e, de seguida, a ter empurrado para o sofá, onde concretizou sexo vaginal, não constituiu violência suficiente para configurar o crime de violação

Depois, o Supremo invocou formalidades para não se pronunciar, e isto tem andado a marinar, entre recursos e outros atrasos legais do género. O mesmo se passa na Ordem dos Médicos (OM); Manuel Rodrigues e Rodrigues, responsável do conselho disciplinar regional da OM, afirma que estas demoras são normais, desculpando-se com a demora dos tribunais e com a pena proposta (expulsão da OM), que exige o rigor absoluto em todos os trâmites.

Bem, e enquanto todas estas entidades, Supremo Tribunal de Justiça, Tribunal da Relação do Porto e Ordem dos Médicos, nos demonstram a qualidade do seu trabalho, o referido psiquiatra tem toda a liberdade para continuar a exercer este seu tipo de psiquiatria. Segundo estas entidades, o senhor doutor não terá feito nada de errado que justifique, sei lá, suspender o seu direito de excercer esta actividade.

Friday, September 13, 2013

Desigualdade? Tudo igual, como sempre

O camarada Crato afirma que "não se pode ensinar bem o que não se sabe bem". Muito observador, e creio que esta frase é um exemplar perfeito do seu brilhante raciocínio. Poderíamos sugerir-lhe algo igualmente óbvio, que também não se pode gerir bem o que não se conhece bem, mas isso não lhe serviria de muito. Ele não está a gerir nada, está apenas a destruir tudo o que pode, para criar um vazio que possa ser preenchido por um conjunto restrito de amigos que terão, mais uma vez, um lucro garantido pela acção do Estado.

Por falar nisso...

Ontem, no mesmo dia em que o nosso querido líder cumpriu o seu objectivo de colocar no seu lugar os pensionistas do Estado, esses milionários obscenos, a Oxfam aponta Portugal como um dos países que mais tem beneficiado as elites económicas e onde é maior o risco de desigualdade. É sempre bom ver outros a afirmarem o que penso, apesar de achar que quem diz isto, incluindo eu próprio, partilha o aguçado sentido de observação do camarada Crato. O único motivo pelo qual continua a ser preciso repetir isto é porque do outro lado (das elites sustentadas pelo Estado e dos seus amiguinhos) há muita gente a afirmar o contrário. Tudo bem; como disse alguém na minha adolescência, "a água reflecte o céu, portanto o céu por cima do Tejo é castanho".

Aparentemente, a austeridade não resolve. Eu creio que não é bem assim, a questão é mais complexa. Se deixarmos de lado a questão de juros baixos darem jeito à Alemanha & Cia, a verdade é que a austeridade até podia ser um caminho a seguir. O problema é que a elite que manda nisto (e neste caso não me refiro apenas aos sanguessugas nacionais) que austeridade one-sided - que toque aos outros, mas não a eles.

Se a austeridade tocasse realmente a todos, fosse feita com prioridades racionais (atingir quem tem mais antes de chegar a quem tem menos) e fosse seguida de um trabalho de monitorização e correcção, eu até acho que o efeito seria positivo e seria o primeiro a dizer "Venha de lá essa austeridade, e vamos lá despachar isto".

Mas o objectivo não é esse. O objectivo é dar dinheiro aos do costume - aqueles que não têm talento para ganhar dinheiro, nem querem trabalhar para o fazer. Para isso, é preciso, p.ex., privatizar serviços indispensáveis, porque só assim essa gente vai conseguir ganhar dinheiro, vendendo algo sem o qual as pessoas não possam passar.

A liberalização do mercado de trabalho assenta no mesmo princípio. A maioria das empresas não faz a mínima ideia do que significa "recrutar" e "gerir" recursos humanos. Pedem uns CVs, fazem umas entrevistas, montam uns sistemas de avaliação. E depois não conseguem perceber porque raio não são uma Valve. Não conhecem? Sim, é normal, mas vão lá aprender algo útil, vejam como se gere uma empresa, e como se cria riqueza sem precisar sequer estar na Bolsa.

E assim o Estado liberaliza o mercado de trabalho, porque as empresas não querem pagar o real custo da sua incompetência no que toca a esses aspectos de recrutamento e gestão. Mais uma vez, é o Estado que, mudando as regras do jogo, garante o lucro às empresas, à custa do resto da população.

É por isto que a austeridade não vai deixar o país melhor. Deixar o país melhor significaria deixar a generalidade da população melhor. Mas o objectivo é apenas alimentar os mesmos de sempre, cá dentro e lá fora.

Monday, September 9, 2013

A T do M...?

Apesar de concordar que os recentes números do desemprego e da economia são positivos, há uma coisa que ainda não ouvi ninguém dizer: Estamos no Verão. Se esta tendência se mantiver no 4T 2013 e no 1T 2014, aí concordo que será algo para nos fazer pensar.

Senão, é como a história de nos colocarem à frente em letras garrafais a excelente performance das exportações, e depois, no final da página, lá mencionarem, meio a contragosto e em letra minúscula, o peso que a exportação de combustíveis tem nesse indicador.

Friday, September 6, 2013

Retratos desta gente que nos cerca

1. A falta de juízo

Os nossos extraordinários juízes continuam a demonstrar-nos que, para além do problema de produtividade (i.e., quantidade), também a qualidade do seu trabalho deixa muito a desejar.

Desta vez, temos a decisão de não colocar em prisão preventiva um homem que violou uma menina de 14 anos. A justificação? A menina já teria tido relações sexuais. Isto é uma burrice a tantos níveis, que nem sei por onde começar, e hoje não me apetece desenvolver muito.

Deixo apenas mais este exemplo de como esta gente não merece a confiança que o cargo lhes confere.

2. O triunfo das múmias

Chamam-lhes "dinossauros", mas na realidade, parecem mais múmias, nas suas pirâmides, os seus centros de poder.

A decisão do TC, ontem, garante que os nossos autarcas mumificados vão poder mover essas pirâmides de município em município, e perpetuar o seu poder até se desfazerem.

O quê? O povo não o permitirá? Esse seria para rir, mas não me apetece. O grau de exigência do povo anda ali algures entre o zero e o menos infinito; basta ver os casos do Isaltino e afins.

E parece que, desta vez, o "Partido do Bom Senso" não se multiplicou em críticas ao TC e à Constituição. Aparentemente, quando fazem o que nós queremos, está tudo bem. O que diz muito sobre o carácter desta gente.

3. A eficiência dos privados

A revisão ao Estatuto do Ensino Particular e Cooperativo aprovada ontem demonstra, mais uma vez, como funciona a famigerada "eficiência dos privados" em Portugal.

E como funciona? Simples. Como os supostos "gestores" das entidades privadas não têm talento nem competência para gerar os lucros pretendidos, necessitam que o Estado garanta uma parte significativa desses lucros.

É apenas isso que está em causa. A "liberdade de escolha" é mais um sound bite, repetido até à exaustão, para enganar os mais distraídos.

Mas não surpreende. É só mais uma Cratinice. Que não é muito diferente das outras que este governo e todos os anteriores já fizeram; afinal, sem a contribuição do Estado, esta gente não conseguiria juntar fortunas.

Thursday, September 5, 2013

Flexibilidade de carácter

Flexibilizar uma estrutura pode torná-la mais resistente. É uma lição simples, que podemos aprender, p. ex., olhando para diversos tipos de árvores e para a forma como reagem ao vento. São inúmeros os exemplos de árvores mais flexíveis que resistem a tempestades, enquanto outras, mais rígidas, vão abaixo.

Portanto, a flexibilização não é necessariamente algo negativo ou prejudicial. No entanto, é inegável que tem um efeito negativo sobre a estabilidade das estruturas às quais se aplica (vide, novamente, o exemplo das árvores).

Ontem foram anunciados os resultados do relatório do ranking de competitividade do Fórum Económico Mundial; Portugal desceu dois lugares. Este relatório combina dados estatísticos com as respostas de um inquérito feito a +/- 130 empresários portugueses, que procura definir quais as suas principais preocupações, qual a sua visão sobre o que é necessário melhorar no país.

Entre essas preocupações encontra-se a "eficiência do mercado laboral", sendo a lei laboral apontada como um factor negativo para quem exerce actividade económica em Portugal. Desde sempre que as associações de empresários pedem a flexibilização destas leis - a possibilidade de contratar e despedir conforme a evolução da economia; a possibilidade de despedir alguém que não seja "reutilizável" após uma evolução tecnológica numa empresa; maior facilidade em movimentar trabalhadores para partes distantes do país (esta nunca percebi, sempre pensei que o pudessem fazer, salvo existência de uma cláusula contratual que o impedisse explicitamente).

Lendo isto, poder-se-ia pensar que a lei laboral deixa os empresários de mãos atadas no que toca à gestão dos seus recursos humanos. A realidade é outra. O que os move não é o direito de gerir o seu "stock" de recursos humanos a seu bel-prazer, mas sim o custo de exercer esse direito. Os empresários querem que o Estado lhes baixe esse custo; e, graças a estas admiráveis criaturas, nacionais e estrangeiras, que hoje mandam no país, o Estado está a fazer-lhes a vontade.

Também ontem, vi os líderes das associações de empresários a pedir uma reforma do IRC duradoura. Porquê? Segundo eles, as empresas necessitam de estabilidade.

É curioso, não é? Os empresários querem estabilidade para as suas empresas, i.e., para si próprios e para o seu plano de vida profissional. No entanto, pelas alterações que pedem à lei laboral, estão a dizer que a restante população trabalhadora não deverá ter direito a essa estabilidade.

Afinal, se eu puder contratar e despedir conforme acho necessário, e isso não me causar um custo por aí além, quem trabalhar para mim dificilmente terá alguma espécie de estabilidade.

É revelador ver os empresários a exigir ao Estado aquilo que querem que o mesmo Estado negue aos outros. Revela com precisão o carácter desses empresários.

Wednesday, September 4, 2013

Shine on, Walkie Talkie

They're building this brilliant skyscraper in London, the Walkie Talkie.

To further amplify the brilliance of the building, its designers made its mirrored reflective surface concave.

Apparently, in what said designers consider an unanticipated problem, the building is concentrating the sunlight with enough power to, say, melt a car. A Jag, in this case.

Unanticipated, they say.

Indeed, who would have thought that a concave reflective structure would concentrate the reflected rays on a single point...? Will the wonders of modern techonology ever cease to amaze us?

Funny thing, though... I just performed a search on google for «concave vs convex». The very first result has an image, with several intriguing concepts; one says "Concave mirror - causes light rays to meet, or converge". So, apparently cutting-edge science like this seems to be widespread on the internet, these days.

But the pièce de résistance is definitely blaming the "current elevation of the sun in the sky". I also like the solution - just wait for autumn. I'm assuming something will be done to correct the sun's problematic elevation, come next spring, right?

I suggest a stern conversation with our "brightest star", making it clear that such behaviour is to be avoided in the future.

Monday, September 2, 2013

E o Passos também

E a comédia continua. Depois de Maduro, que percebe mais que os outros, temos Passos, o dono do bom senso.

Passos começa por acusar o TC de proteger "mais os direitos adquiridos do que as gerações do futuro". Pedrito, e essas PPPs, hã? Estão bem de saúde e recomendam-se, certo? Bem, não para o Estado, mas isso já nós sabemos. Quase que seria capaz de acreditar nesta afirmação do nosso querido líder, porque se há coisa que ele percebe é de proteger direitos adquiridos. Só de alguns, claro; os outros estão cá apenas para produzir (alguém tem que o fazer) e pagar.

Depois, afirma que as gerações mais novas não têm culpa do que se passou. Totalmente de acordo. O que o nosso querido líder não diz é que a esmagadora maioria dos que têm pago a factura também não têm culpa do que se passou. Não foram eles que aprovaram resgates a bancos geridos por aldrabões e especuladores, nem assinaram contratos de parceria totalmente descerebrados, nem venderam acções com lucros superiores a 100%.

Mais uma vez o nosso querido líder alimenta as suas divisões preferidas (função pública vs. trabalhador privado, gerações "novas" vs. gerações "velhas"), para que ninguém se concentre na verdadeira divisão que este governo, tal como todos os anteriores, mantém - os amiguinhos que o Estado sustenta vs. o povo que paga esse sustento.

O resto do discurso andou sempre à volta desta conversa inútil - não conseguimos resolver os problemas porque o Big Bad Tribunal Constitucional não deixa. Na realidade, não conseguem resolver os problemas porque não os querem resolver, porque a única solução eficaz significaria retirar o lucro garantido a muita gente que, sem esse "direito adquirido", não conseguiria fazer figura de grande gestor nas revistas cor-de-rosa da especialidade. Assim, é "preferível" atacar mais abaixo, para não danificar as teias criadas mais acima nas últimas décadas.

Qual seria a solução eficaz? O primeiro passo é simples - suspender as PPPs (renegociar não é uma opção quando ambos os lado têm o mesmo objectivo, que é sacar o máximo possível ao Estado); acabar com rendas a empresas e fundações; cancelar pensões atribuídas após meia-dúzia de anos de desempenho de funções; anular rendimentos pagos por entidades estatais a pessoas que já não trabalham nessas entidades e que recebem esses rendimento apenas porque um dia lá trabalharam.

A propósito, esta é a verdadeira divisão do nosso país. Tudo o resto é inventado para encher cabeçalhos e distrair o povinho.

Não digo que isto, por si só, resolva tudo. Sim, precisamos da reforma do Estado. E talvez até precisemos da tal perda salarial de que a nossa elite tanto gosta. No entanto, sem as medidas acima, vamos continuar o caminho que andamos a trilhar nas últimas décadas - anda uma esmagadora maioria a pagar os luxos e os vícios de uma "elite".

Ah, e quanto ao que o nosso querido líder não teve coragem de dizer, e mandou recado pela JSD. Por mim, reveja-se a Constituição, plenamente de acordo. Tenho já algumas sugestões:
  • Responsabilidade criminal para todos os detentores de cargos públicos (local e central).
  • Proibição de contratação de serviços por ajuste directo.
  • Obrigatoriedade de referendo para qualquer negócio em que o Estado tenha que pagar mais de 500,000 euros. O valor é demsaiado baixo? Bem se vê que vocês não conhecem as nossas elites. Se for preciso, dividem um projecto de 2 milhões em 4 sub-projectos de 499,999.
  • O programa eleitoral com que um governo é eleito passará a ser a lista de objectivos segundo o qual será medida a produtividade desse mesmo governo. Avaliação anual desses objectivos e, se o governo não cumprir os objectivos a que se propôs, terá lugar um referendo sobre se esse mesmo governo se deve manter em funções ou deve ser demitido.
  • Definição, através de referendo, de um objectivo popular para uma legislatura. Este não seria incluído no ponto anterior, sendo avaliado apenas no final da legislatura.
Volto a repetir o que sempre disse - não tenho nada contra a austeridade, e estou disposto a encarar os sacrifícios necessários para sairmos disto. Mas não quando vejo toda a gente que continua a encher o bolso à conta do Estado, como se não existisse crise, e a quem os sacrifícios não tocam.

Sunday, September 1, 2013

O Maduro é divertido

O camarada Maduro andou a a divertir o pessoal outra vez. Não, não é o da Venezuela. Esse, já sabemos que tem um potencial de diversão que tende para mais infinito. Refiro-me ao que temos por cá, o Poiares Maduro, que é de calibre semelhante ao da Venezuela, mas gosta de pensar que não é.

Desta vez, temos as seguintes pérolas:
  • É inevitável reduzir pensões
Para "garantir a sustentabilidade da Segurança Social", claro. As reduções terão em conta "aqueles que estão em situação de maior fragilidade". E, ao que parece, a convergência entre a Segurança Social e a Caixa Geral de Aposentações é uma forma das formas de empenho do Governo em proteger os que estão nessa situação de "maior fragilidade". E, mais uma vez, se falou na história da equidade.
  • O Tribunal Contitucional (TC), esse gerador de clivagens entre as gerações
O nosso humorista Maduro afirmou isto:
"Discorde-se ou não da decisão do Tribunal Constitucional recente, é dizer que o espaço de ação política para uma geração é de um tipo e o espaço de ação política e os direitos para outra geração é de outro tipo. Concorde-se ou não com a interpretação constitucional do tribunal é essa a consequência: é uma segmentação das políticas possíveis e dos direitos possíveis para diferentes gerações"

De seguida, surgiu "Maduro, o Esclarecido", afirmando que o TC tem dificuldade em entender a política e a lei fundamental no espaço e no tempo em que elas devem ser lidas e interpretadas. O que, traduzido para português, significa "Nós (Governo) é que percebemos disto, os juízes do TC, além de lentos, estão desactualizados".

Seguiram-se mais afirmações brilhantes que, de uma forma ou de outra, andaram sempre à volta destas ideias de que o TC não percebe o que faz, nem o contexto politico-temporal em que se encontra inserido; e que isso poderá, inclusivé, colocar em perigo a democracia para as gerações futuras.

  • A solidariedade e a austeridade
Ah, sim, ainda houve tempo para a velha fábula dos poupadinhos solidários e dos mauzões gastadores que estão agora a receber o castigo que merecem.

Então, vejamos...
  • É inevitável reduzir pensões
Caro Nicol... er, quero dizer... estou sempre a confundir os dois, é melhor ficar-me por Maduro...

Bem, caro Maduro. Só é inevitável reduzir pensões porque o governo do qual faz parte não só se está completamente nas tintas para a tão apregoada "equidade", como ainda aqueles que mais protege não são os que estão em situação de maior fragilidade.

Vamos sempre dar ao mesmo - o motivo pelo qual "não há dinheiro" é porque o dinheiro - que, por acaso, até existe - está a servir para alimentar os amigos das PPPs, das rendas, do BPN... bem, não vou repetir tudo outra vez, caro Maduro, tem aqui uma listinha. É básica, mas é um princípio.

É toda a gente que se alimentou (e ainda alimenta) de tudo o que se gastou nessa lista que o Governo protege. Apenas esses, e mais ninguém.

  • O Tribunal Contitucional (TC), esse gerador de clivagens entre as gerações
Caro Maduro, mais uma vez as suas palas parecem não o deixar ver alguns factos fundamentais.
  1. O maior criador de clivagens cá do burgo é o Governo do qual faz parte.
  2. O facto de alguém ter uma opinião diferente da sua não significa que esse alguém não saiba o que está a dizer. Ah, e assenta-lhe que nem uma luva dizer que respeita muito a opinião do outro, para depois afirmar que o outro tem dificuldade em perceber aquilo de que fala.
  3. Não são as decisões do TC que colocam em perigo a democracia. São as decisões dos líderes (actuais e passados) do Estado (central e local) que afastam as pessoas da política, que fazem com que a imagem de todos os políticos (literalmente sem excepção) esteja pelas ruas da amargura. Aliás, nada tem sido mais destrutivo para a democracia que a clivagem entre a Europa dos "bem comportados" e a Europa dos "doidivanas".

  • A solidariedade e a austeridade
Sobre os nossos vizinhos poupados, não tenho muito mais a acrescentar ao que já disse.

Quanto a nós, os doidivanas gastadores. Caro Maduro, os grandes doidivanas gastadores das últimas décadas no nosso país não são os funcionários públicos que o Governo agora quer despachar, nem os pensionistas cujos rendimentos se torna imperativo cortar. Os verdadeiros gastadores são os que ocuparam cargos públicos ao longo dessas décadas e que fizeram negócios com privados que foram, numa esmagadora regra geral, prejudiciais para o Estado. Que é como quem diz, os seus colegas, presentes e passados.

Sem esses negócios, esses privados altamente eficientes não teriam conseguido os belos lucros que conseguiram. E ainda conseguem, porque a esses, aparentemente, não é inevitável cortar o rendimento.

O Estado tem dinheiro. Só não consegue é continuar a sustentar camaradas como o Maduro e os seus amiguinhos, que querem um belo lucro mesmo quando não têm competência para gerir sequer uma mercearia. Mas como no lucro dos amigos não se toca, para os nossos queridos líderes é inevitável cortar nas pensões.

Saturday, August 31, 2013

Uma questão de fé

O nosso querido líder não acredita que o país aguente mais impostos.

Parece uma crise de fé, mas isso resolve-se bem. Meia-dúzia de "Avé Ulrich", e fica o Pedrito renovado.

Lá no meio, ouvia-se a habitual tirada do "Não podem ser sempre os mesmos a pagar". Bem lembrado, Pedrito. Os amigos das PPPs e das rendas do champagne já disseram alguma coisa?

Friday, August 30, 2013

Ciclistas em Portugal

O presidente do ACP, Carlos Barbosa, sugeriu que as bicicletas deveriam ter seguro obrigatório, tal como os carros... e as motas... e, se pensarmos bem, a esmagadora maioria dos veículos que circulam na estrada.

Os camaradas ciclistas não gostaram da ideia, o que não espanta ninguém. Toda a gente gosta de direitos, mas ninguém gosta de deveres.

Irónica foi a declaração da Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta (MUBi), que se mostrou disponível para um debate sério e sem demagogia para criar um convívio mais agradável e seguro na estrada.

Plenamente de acordo, caríssima MUBi. No entanto, sugiro um preâmbulo para esse debate - ensinem aos ciclistas (de uma maneira geral, não apenas aos vossos associados) que um sinal vermelho no semáforo significa "Parar".

Sim, caros ciclistas, é verdade, parar. Mesmo que seja totalmente seguro passar; mesmo que consigam passar à tangente ou obriguem a parar quem tem sinal verde (é raro, sim; ainda só o vi duas vezes). Sinal vermelho obriga a parar. Ou porque acham que param os condutores dos outros veículos (carros, motas, etc)?

Alguns não param? Sim, é verdade, longe de mim defender o civismo dos automobilistas portugueses. No entanto, a minha experiência, por muito insignificante que possa ser, demonstra-me o seguinte:
  • A maioria dos automobilistas pára no sinal vermelho.
  • A maioria dos ciclistas não pára no sinal vermelho.
Portanto, estão a ver o problema, certo? Adiante.

Uma vez interiorizado este extraordinário conceito, podemos passar para outro, que vos deverá parecer igualmente estranho, chamado prioridade.

Quando eu deixar de ver a maior parte dos ciclistas com que me cruzo a desrespeitar rotineiramente as regras de condução, talvez acredite no tal convívio agradável e seguro. De preferência, com seguro.

Thursday, August 29, 2013

The Amazing IMF

Whenever I hear "The Amazing Whatever", it brings to memory those "amazing" people of yore, going from town to town and village to village, in the eternal struggle to ensure none would go without snake oil. Their motto would probably be something like "All men are created equal, so let none be kept from buying our wondrous products". Or, for short, "There's one born every minute".

Ergo, "The Amazing IMF".

The Amazing IMF continues its notable screw-up streak. This time, we discovered that The Amazing IMF has performed some "selective filtering" on the data it used to justify the need for a greater wage flexibility in Portugal.

The IMF's data shows that the number of employees (as in "non-self-employed workers") with cut wages in 2012 was around 7%. Apparently, the reality disagrees, and without the IMF's "selective filter", that figure would be 20%.

The Portuguese government (remember how the Amazing Whatever always had one or two accomplices in the crowd? Check!) stated that the data is indeed partial, and that it was exactly what the IMF asked; the "accomplice" actually praised the IMF's method (which we can assume is not scientific) and its results (which I'd guess are not accurate viz-a-viz the reality).

We can add, regarding the method, that although it's not scientific, it must be economic, since it fits the pattern used by that Amazing Duo, Reinhart-Rogoff.
 
This would be amusing, if it wasn't for two facts:
- These nonsensical, brain dead schemes have an actual impact on peoples' lives.
- The novelty has wore off.

What do I mean, "the novelty has wore off"' Well, the first few times the IMF screwed up, I felt a bit elated, seeing those credible, competent, high-and-mighty people get it wrong. These days? These days, I'm aware the only people who defend the IMF as "credible" and "competent" are those who have something to gain from doing so. The IMF itself has shown the world, again and again, it is neither.

So, seeing the IMF fumble is like hearing the same joke on a loop. It gets old. Pretty fast, in this particular case.

Sunday, August 25, 2013

Urgências em Lisboa

Vi há dois dias, na SIC Notícias, um pequeno debate sobre o novo plano de urgências para Lisboa.

Um dos argumentos mais repetidos pelo indivíduo que defendia este plano era que é idêntico ao que está a funcionar no Porto, desde há quatro anos.

Nesse debate, não vi ninguém a levantar uma questão elementar: Que catástrofes ocorreram no Porto durante esses 4 anos? Por que prova(s) de fogo passou este sistema? É suposto ficarmos mais descansados quando o "CV" deste sistema se resume a "Nunca foi verdadeiramente posto à prova"?

Há 25 anos, o Chiado ardeu. Um dos factores decisivos para a ineficácia dos bombeiros foram os canteiros colocados na Rua do Carmo. Lembro-me que esses canteiros deram muito que falar, e lembro-me de ter ouvido falar do impacto que os canteiros teriam sobre a movimentação de viaturas de emergência que precisassem de entrar na rua.

Os "gestores" de então minimizaram as críticas, recorrendo ao habitual esquema de se esconderem por detrás de um optimismo totalmente descerebrado e impermeável a qualquer raciocínio lógico. O esquema não mudou; continua vivo e de boa saúde, e podemos encontrá-lo hoje na boca de todos os que defendem este brilhante exemplar de burrice que vai ser implementado nas urgências em Lisboa.

Não percebo porque se ficaram por dois hospitais. Se tivessem acrescentado mais um, poderiam ter chamado a isto a "Vermelhinha das Urgências".

Saturday, August 10, 2013

A eficiência dos privados

Ao que parece, um helicóptero de combate a incêndios ficou parado durante duas horas, quando deveria estar a auxiliar os bombeiros no terreno. Porquê?

Porque a empresa dona do helicóptero era a Helibravo, e outra empresa, a Everjet, recusou abastecer o helicóptero da concorrente.

Isto, caríssimos, é o que se obtém quando se colocam privados a gerir serviços essenciais.

Friday, August 9, 2013

A novela dos swaps continua

Há algumas notas relevantes neste novo episódio da novela dos swaps.
  • As propostas tinham como objectivo a cosmética das contas públicas. Não deixa de ser curioso que tenham sido classificadas como operações com "relevância" e "que se inserem nas estratégias normais de redução do risco e melhoria da performance da gestão da dívida pública, sendo executadas com regularidade pelo IGCP".
  • Já viram a quantidade de gente que é necessária apenas para reencaminhar um documento? Reencaminhar sem acrescentar qualquer valor e, no caso dos comentários do ponto acima, reencaminhar retirando valor, ao emitir pareceres incorrectos sobre o conteúdo do documento. Sempre defendi que a gordura do Estado está mais acima, e agora foi possível comprová-lo.
  • Os camaradas do PSD têm toda a razão quando dizem que não se percebe como é que ninguém do governo de Sócrates denunciou isto. No entanto, a julgar pela nota de rodapé do doc. do IGCP referente a estas propostas, parece que os camaradas do PSD deveriam dirigir essa questão também para o seu próprio partido:
As propostas apresentadas pelo Citigroup à República, em 1 de Julho de 2005, correspondem, quase integralmente (...), às que tinham sido apresentadas a 13 de Agosto e a 27 de Setembro de 2004 e que tinham tido parecer negativo por parte da AGD
  • A SIC já veio esclarecer que recebeu o documento da residência do anterior primeiro-ministro. Por um lado, adoro estas coisas - recebeu da "residência"... deve ter sido a governanta; ou, se formos mais tradicionais, o mordomo. O que a SIC ainda não esclareceu foi quando recebeu o documento.
No fundo, se espremermos bem isto tudo, não há grandes novidades, apenas confirmações. Confirmamos:
  • O calibre moral de quem nos governa, os nossos "best of the best"
  • O calibre moral da nossa banca. E afins, que os nossos amiguinhos da banca não são especiais, são iguais a todos os outros que tenham dimensão suficiente para ter amiguinhos no Estado.
  • O valor acrescentado de toda a gente que aparece muito ufana, de fato catita e de braços cruzados na capa das revistas (e jornais) cor-de-rosa dos gestores e economistas. Aliás, dada a sua contribuição para a posição notável que Portugal ocupa actualmente, há que lamentar que não tivessem passado mais tempo de braços cruzados.
A verdade é que já sabíamos tudo isto. Estas histórias que sobem à superfície quando as comadres se zangam servem, acima de tudo, para calar o pessoal que grita "Teoria da conspiração" por tudo e por nada.

Deixo uma nota final - já repararam que quem fica bem neste filme é o Franquelim do BPN? Não acham que isso, só por si, diz tudo?

Thursday, August 8, 2013

Xeque-ensino...?

E o camarada Pais Jorge lá foi à sua vida, a queixar-se da podridão em que se tem movimentado desde há anos. Seria de esperar que o aroma já não o incomodasse.

Entretanto, vi a história do cheque-ensino. Mais uma ideia fabulosa dos nossos queridos líderes, de forma a garantir que o contribuinte faça por algumas empresas privadas aquilo que os seus gestores não têm competência para fazer - gerar lucro.

Bem, agora é só aguardar os 2-3 anos da praxe, pelo relatório do Tribunal de Contas, e pelas opiniões de como isto "até era uma boa ideia, mas não correu como esperado, coisa que ninguém conseguiria prever".

Sunday, August 4, 2013

Ironias

1. Correia de Campos, ministro da Saúde dos tempos de Sócrates e das suas fabulosas PPPs, a criticar as PPPs na área da Saúde.

2. Mira Amaral, que esteve na venda do BPN ao BIC (ao mesmo tempo que dizia que o país lhe devia estar grato), a criticar o dinheiro que o Estado dá de mão-beijada às empresas (neste caso, à EDP).

Às vezes, a falta de vergonha na cara quase chega a ser admirável.

Saturday, August 3, 2013

Lagarde and Spain

Dear Christine Lagarde,

You've mentioned recently how the IMF receives unfair criticism, regarding its policies.

And now, you've presented Spain with a few suggestions for fighting unemployment - weakening labor laws and cutting salaries. This set of beliefs has been experimented in Greece and Portugal, and the result is plain to see.

As I've already explained, entities like the IMF are little more than fundamentalist organizations, spouting dogma; such is the way of pseudo-sciences, like Economy.

Like a horse with blinders (yes, I know an analogy with another, longer-eared, equine would be more apt), you refuse to step away from the path you know, even though past experiments have shown it leads nowhere.

And that is the truly fascinating aspect, in this travesty of tragicomedy where you stand as a protagonist - organizations like yours don't evolve. You have the luxury of testing your theories "on the field" (another trait that sets Economy apart from a real science), and yet you appear unable to learn from the results, as the dogma remains the same.

By this, you even manage the absurdity of comparing unfavourably with other fundamentalist organizations; because these other organizations, at least, learn and adapt.

I realize, of course, you don't need to learn and adapt. When one can show consistent lack of results, and still be payed for it, one needs not worry with learning of any kind.

You already know everything you need to know.

Friday, August 2, 2013

Histórias do País das Maravilhas

1. O governo publicou uma portaria que obriga a Vimeca a aceitar os passes intermodais.

Este é o governo que não corta a sério nas PPPs porque, supostamente, a legislação não lhe permite fazer mais. O mesmo governo que, quando o contrariam, procura forma de alterar a legislação.

Fazendo a comparação entre a Vimeca e as PPPs, talvez esteja na altura de a Vimeca fazer umas contribuições para os partidos, ou começar a contratar gente "notável" com cartão partidário para posições "não executivas" na empresa.

2. Em 2005, Joaquim Pais Jorge, colaborador do Citigroup, tentou vender ao governo de Sócrates swaps para disfarçar o rácio dívida pública/PIB.

Hoje em dia, esse exemplo perfeito de empreendedorismo é secretário de Estado do Tesouro.

Muita gente diz que isto é um escândalo; eu creio que o termo técnico é "normal". Vejamos...
  • Indivíduo que trabalha no sector privado, propõe negócio de cosmética financeira ao Estado e depois passa para institutos públicos para "negociar" PPPs? Check!
Nota: Admiremos a coerência. A proposta dos swaps seria prejudicial para o Estado; e as PPPs são aquilo que sabemos.
  • Devido à sua performance, é recompensado com um lugar no governo? Check!
  • Os swaps não são contabilizados para o cálculo da dívida pública, toda a gente sabe disso e ninguém quer saber (incluindo esses bastiões da inutilidade que são as agências de rating)? Check!
Não vejo onde está o escândalo. É apenas mais uma história de gente que revela um grau de competência e idoneidade compatíveis com lugares de liderança/gestão no sector público, onde, naturalmente, vão manter os laços que os ligam aos amigos que permanecem nas instituições privadas, e é neste emaranhado de fios entrelaçados que assenta o modus operandi que trouxe o país à posição de relevo em que se encontra actualmente.

Tal como disse, tudo normal. Nada de novo. Não sei porquê, lembrei-me agora de uma música dos 80s - "Jobs, jobs, jobs"... ou será que era "Boys, boys, boys"?

3. O Tribunal da Relação do Porto decidiu que o álcool é benéfico à produtividade.

Mais concretamente, decidiu que um trabalhador despedido por estar com uma piela colossal (perdoem-me o termo técnico) tem que ser readmitido porque "com álcool, o trabalhador pode esquecer as agruras da vida e empenhar-se muito mais a lançar frigoríficos sobre camiões, e por isso, na alegria da imensa diversidade da vida, o público servido até pode achar que aquele trabalhador alegre é muito produtivo e um excelente e rápido removedor de electrodomésticos".

Creio que a grande virtude deste acórdão foi esclarecer a atitude dos nossos magistrados relativamente ao trabalho sob o efeito de álcool e, nesse sentido, lançar uma nova luz sobre muitas decisões judiciais que eram, até agora, incompreensíveis. In Vino... Qualquer-Coisa-Que-Não-Veritas, suponho.

Mas, agora, ficou-me a dúvida... dado o assombroso nível de produtividade da magistratura portuguesa, será que eles andam o tempo todo sóbrios?

4. Miguel Relvas vai promover a língua portuguesa.

Haveria muitas piadas a fazer com o assunto, mas fica para outro dia.

Deixo apenas uma nota curiosa - a instituição que vai acolher Relvas não será financiada por dinheiros públicos, mas sim por empresas privadas. Basta pensarmos no nível de segregação entre sector público e privado em Portugal, para percebermos que, de uma forma ou de outra, quem vai pagar isto é o contribuinte, como sempre.

Thursday, July 25, 2013

Dear EU taxpayers (again)

Yes, it's me again.

Remember when I addressed you, asking what were your ambassadors doing, back when Portugal was spending your money like crazy?

Well, this week I came across this.

This shows an ambassador doing his job. I'm not a citizen of the USA, but I can admire a job well done, and this is such a case. The US citizens (and, as stated in this document, taxpayers) should be proud of their ambassador, for this report.

This a report of the US ambassador in Lisbon, regarding the FLAD foundation, which was set up as a means for the USA to fund a particular type of projects, namely "development, education and science projects" in Portugal. Sounds familiar? I thought so. Let's take a closer look at it, shall we?
In 1987, then-Prime Minister (and now President) Cavaco Silva reorganized the foundation in a move likely aimed at tightening GOP control over its programming and budget. Key authorities were moved from the Board of Directors (where the U.S. Ambassador has a seat) to the day-to-day executive council (where he does not)

So, for step #1, Portugal took control of FLAD and kept US oversight at a distance. Why? As stated elsewhere in the report,
USG contributions to FLAD eventually totaled $111 million

Now, that's a lot of millions, wouldn't you say? And how were these millions spent?

Well, here's the initial plan, straight from the report:
Thus, FLAD´s goal was to spend 75 percent of its available funds each year on grants for development, education and science projects

And here, without further ado, is the Portuguese interpretation of said plan (the emphasis is mine):
Rui Machete, a lawyer and politician who held cabinet positions in the 1983-85 Portuguese government (including Minister of Justice and Deputy Prime Minister) has been FLAD´s director since 1988, getting the job as a consolation prize after he lost his cabinet post in the change of government in 1985
He is wired into both major political parties and is suspected of disbursing FLAD grants to curry political favor and maintain his sinecure
Machete has historically opposed all efforts at independent oversight, professional accounting practices, and transparent review of FLAD´s programs
In 1992, Ambassador Briggs reported that, ”As long as Machete is there, FLAD can only be marginally useful to us.” The foundation´s overhead then was 60% of revenue, leaving only 40% for actual programming. Today, this figure is only somewhat better as FLAD continues to spend 46% of its budget on overhead for its luxurious art-adorned offices, bloated staff, fleet of chauffeured BMWs, and on ”personnel and administrative costs” that has included at times wardrobe allowances, low-interest loans to staff, and honoraria for staffers participating in FLAD´s own programs
Did you notice the figures, dear EU taxpayers? 75% investment planned; 40% actually executed, which later improved to +/- 55%? And the rest? Basically, wasted on the creation of a few more fortunes.

Your money went through a similar wasteful process. The only difference is that the US turned off the tap early, when they realized what was going on.

Apparently, you were incapable of doing the same.

Wednesday, July 24, 2013

Machete

Eu disse que não ia falar sobre os devaneios do PR, mas vou deixar apenas uma nota sobre a nova novela que estreou hoje, "Machete" (no relation, suponho).

Aqui temos mais alguém com um CV de causar inveja (pelo menos, ao Vale e Azevedo) mas que, curiosamente, parece ter perdido parte desse CV pelo caminho, quando chegou a hora de publicar a sua "biografia oficial".

Já o disse, e repito-o: Esta gente não tem talento sequer para mentir.

Saturday, July 20, 2013

Stuck in repeat

Apesar do título, este é em português.

Duas notas, antes do tema principal.
  • Por que não escrevi nada sobre a pensionista que se queixou dos carrascos (que, apenas por acaso, são os mesmos que lhe pagam a reforma)? Porque há gente que não merece mais que desprezo.
  • Por falar nisso, também não vou perder tempo com estes devaneios do PR. Nenhum dos cromos envolvidos (incluindo o próprio PR) alguma vez soube o significado de "sentido de Estado", portanto não seria agora que o iriam aprender. Para esta gente, "sentido de Estado" é o sentido seguido pelo dinheiro do Estado para entrar para os seus bolsos.
Stuck in repeat, então...

O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos condenou o Estado a pagar 1.5M de indemnizações pela tristeza que foi a Reforma Agrária. Tendo em conta que já pagou 240M, não me parece que esta gota de água faça grande diferença, mesmo nos tempos que correm. Se o 1.5M não fosse para isto, iria para pagar as contas das caixas de lenços dos novos donos do BPN, ou como prémio para mais uma gestora iluminada de um qualquer banco cujas burrices estão a ser pagas pelo Estado, como é normal.

O que é realmente esclarecedor aqui é o seguinte:

1. Repito, a Reforma Agrária foi uma tristeza. A nível pessoal, conheço uns poucos casos, um dos quais muito próximo, que revelam a total incompetência de quem trabalhava a terra para gerir uma exploração agrícola. Sim, trabalhar a terra é uma coisa, geri-la é outra.

2. Dito isto, entre quem trabalhava a terra, havia demasiada gente a viver em condições miseráveis, explorados por muitos dos donos dessas mesmas terras. A miséria de uns financiava a boa vida de outros.

O motivo pelo qual a "solução" aplicada (a Reforma Agrária) foi uma péssima ideia é exactamente o mesmo motivo pelo qual hoje em dia um "governo" (utilizando o sentido mais lato possível para esta palavra) de posição ideológica diametralmente oposta (redundância? Who cares?) aplica um conjunto de "soluções" de igual calibre de burrice - é mais fácil cortar a direito do que fazer um trabalho bem feito.

Olhando para os 2 pontos acima, qualquer pessoa com um total de neurónios superior a zero se apercebe que o problema a resolver reside nas condições miseráveis em que vivia quem trabalhava a terra. Como é que isso se resolve? Simples. Começamos por procurar as excepções a esta regra (sim, existiam), aprendemos como funcionam e, com base nessa aprendizagem, impomos esse funcionamento em todas as restantes explorações agrícolas.

Mas isto tem um problema - exige trabalho, e trabalhar é aborrecido, não é? É mais fácil simplesmente expropriar as terras aos donos, quer o merecessem, quer não, certo?

Sim, haveria muita gente que não fazia mais que explorar a mão de obra miserável que tinha à sua disposição. Mas, mesmos a estes, eu não lhes tiraria as terras. Definia um conjunto de regras para criar uma sociedade mais equilibrada, impunha-lhes essas regras, e depois segui-los-ia com muito mais atenção que aos outros, para ter a certeza que as novas regras não lhes "passavam ao lado".

Eu sou o primeiro a concordar com um dos objectivo por detrás da Reforma Agrária - tirar uma enormidade de pessoas da miséria, dar-lhes educação, transformá-los em cidadãos. Mas a Reforma Agrária nunca foi a solução para isso. Foi, antes de mais uma punição para uma determinada camada da sociedade (os donos das terras), onde punimos todos devido à canalhice de alguns (ou talvez até de muitos). Mas não só não nos demos ao trabalho de separar o trigo do joio nesta camada da sociedade, também não o fizemos nas pessoas (cooperativas) a quem entregámos as terras.

A Reforma Agrária fracassou, como tinha que fracassar, porque o trabalho foi mal feito. Porque se assumiu que de um lado (donos das terras) era tudo canalhas e do outro lado (trabalhadores) era tudo gente boa e explorada. Mais uma vez, parece-me óbvio que alguém com um cérebro funcional veria que havia canalhas e gente boa de ambos os lados, e o objectivo deveria ter sido aproveitar a gente boa e manter os canalhas controlados.

Aceito que me digam que no ambiente da altura, em pleno 75 revolucionário, seria difícil implementar uma solução séria. O que já não percebo foi como, ao longo dos anos que se seguiram, nada se fez para corrigir o erro. Lá está, não somos assim tão diferentes do contribuinte alemão, não é?

Quanto às burrices que se cometem hoje em dia, o motivo, tal como disse, é o mesmo - uma solução a sério exige trabalho, e trabalhar é aborrecido.

Existem outros motivos, outros interesses? Sim, claro, mas também naquela altura existiam. Tal como disse, canalhas, há-os em toda a parte.

Monday, July 8, 2013

A couple of missives

Dear Christine Lagard,

Please, allow me to correct a small error on your statements, yesterday, on Aix-en-Provence.

You've admitted, again, errors in the IMF policies. You've mentioned that admitting failure is the IMF's tradition, and you also noted that you've been, shall we say, insulted, when doing so in the past.

However, there's a small point missing from your line of reasoning. It is true that you have been treated in a fashion one might consider less than appropriate; however, the cause for such treatment lies not in your admission(s) of error, but rather in the baffling decision to ignore every shred of evidence that contradicts your beliefs.

And, while I'll certainly agree that the IMF has admitted its errors, I have also heard its staff in the troika shedding any responsibility for the poor results in Portugal, and placing it squarely in the shoulders of the Portuguese government. Perhaps your memo about admitting one's mea culpa has not yet reached the four corners of your organization?

What portrays you (and your associates, be it the ECB, the Bundesbank, or our ex-Finance Minister Vito Gaspar) as incompetent for the task you're supposed to be carrying out is not only the lack of results, but also this apparent inability to listen to those who do not share your beliefs.

You'll notice I've mentioned beliefs in this text, and in bold, no less! That stems from the fact that we're talking in the context of Economy. Were we talking in the context of a science, say, Physics, where one can apply an actual bona fide scientific method, I'd probably say hypotheses, instead of beliefs. However, Economy is not a science, and I can't refer to the application of formulas in Excel as "scientific method"; well, not with a straight face, anyway.

So, at the end of the day, Economy is little more than a religion. You make some prayers (no, the fact that your altar can perform millions of arithmetic/logic operations per second does not make it any better than other altar), you go forth with your holy workbooks, and you take on the world with your very peculiar version of "Smite the Infidel (or, at Least, Make Him Jobless and Remove All Wellfare Assistance)".

Which is why, dear madam, I'll give you the same credibility I give any other fundamentalist organization. And that, I'll wager, is what lies behind the lack of respect you mention.

Dear Fellow Europeans,

Yes, it's me again.

You might recall when I first addressed you, as EU taxpayers, and said this: "especially in a country with such an appalling judiciary as Portugal".

You might be tempted to ask "How appalling could it be?", right? Well, there are countless examples, but I'll share one with you, just because it's "fresh from the oven".

It's story of a woman who had an illegal nursery in an apartment. She took care of 17 babies/young children. Of course, care might be a bit misplaced here.

The woman's neighbours filmed her from across the street. She hit them constantly and repeatedly. What's the difference? Constantly means all the time; repeatedly means several times in succession, as in one occasion where a child is slapped in the face 7 times in a row. She fed them all from the same plate, with the same spoon/fork, with the same napkin (which, as seen on film, also doubles up as her nose handkerchief).

A news reporter from one of our TV stations (SIC) went there, with a hidden camera, posing as a mother looking for a nursery. The woman admitted she was operating illegally. The woman blatantly lied about the way she treated children (well, naturally). During the whole time, no child or baby made a sound, or moved from his mattress, or acknowledged, in any fashion, the arrival of a strange person in the apartment.

The woman is now required to go to court, which has been decided on 2013-07-04. So, how is this appalling? Well, the process was filed on 2011-05-27.

Yep, you got that right, my fellow Europeans. More than 2 years to bring this woman to court. And we had a film of the repeated aggressions, we had an admission of illegality also on film, and, to bring this to a whole new level of surrealism, the woman had already been caught by the authorities running an illegal nursery before.

Remember when I said I didn't understand how could you let investigations concerning your money in the hands of these people? Well, as the song went, I know a little...

Wednesday, July 3, 2013

Dear Fellow Europeans...

Portugal's credibility is mortally wounded. It's a funny thing, credibility, wouldn't you say? I'll come back to it in a moment.

We've followed an austerity recipe for the past 2 years. We're getting a bit fed up with it, at the moment. "Why?", you ask. Well, if I had to hazard a guess, I'd say it's the total absence of results coupled with the complete presence of destructive side-effects. You see, it's not so much the austerity that bothers us, it's seeing that after all this austerity, we're still not getting anywhere.

Yes, it's true we haven't had much luck with our rulers (actually, that applies both to current and past rulers, but I'll just stick to the present). However, our current rulers have been "approved" by the troika. Our de facto PM (which was our Ex-Finance Minister Vitor Gaspar, not our actual PM) is highly regarded among every institution currently sending orders to Portugal. He has a brilliant resume, a "best of the best" career, with an European stamp of quality and approval.

I wonder, though. What happened to this brilliant fellow when he arrived here? Was it the air? The food? The weather, perhaps, as he so wittingly mentioned a few days ago in Parliament? Because this man, this shining beacon of European genius, was a total failure, here.

I could forgive the aforementioned recipe; after all, it was externally-imposed. However, he himself repeated, on numerous occasions, that he actually agreed with said recipe. Add to that all the budget adjustments and, particularly, all the consecutive failed predictions, and this starts looking like a not-so-brilliant chap, after all.

So, I've got to ask: Is this your level of demand for brilliant? Someone who defends a failed economic recipe, in fact, someone who defends a recipe that anyone with a reasonable count of brain cells - say, above 1 - predicted (correctly, if you care to notice this distinguishing trait) it would destroy the economy? Someone who presented failed prediction after failed prediction? Someone who, I assume based on the valour of the aforementioned brilliant European career, has the approval of a large majority of foreign decision makers and still can't work out a credible plan?

Because the performance of this man that arrived in Portugal with your (European) label of Brilliant has been below appalling.

You want Brilliant? I dislike everything that comes out of Cupertino, and I hated his tyrannical management style, but Steve Jobs was brilliant! I disapprove of Mourinho's arrogant image, but the man is brilliant! I hated when Anders Hejlsberg left Borland for Microsoft, but his work on Delphi and C# is brilliant. These are all examples of brilliant people. Not perfect, but as close as Humanity can aspire to. And there are plenty more men and women like those throughout the world, fortunately.

Vitor Gaspar? Not so much, my fellow Europeans. I don't know what exactly you've been drinking for these past decades (actually, I've pretty much asked that, the last time I addressed you), but the result of the work of this man you labelled as Brilliant is not even remotely close to anything any of those I mentioned above created.

I started with credibility. I'll finish with credibility.

It's not Portugal's credibility that's mortally wounded. It would be, if we were following our own plan. We weren't. We were following a bicephalous "plan" (for lack of a proper designation), which originated in the IMF and Berlin (no, Brussels is just for laughs). So, credit where credit's due.

If the recipe had worked, I'd be the first to say "I don't like it, but I respect results, so I'm willing to continue listening to what you're saying, carry on". But it didn't. The only "positive" aspect that came out of these two years is that, as countries like Portugal continue sliding down (and, eventually, out of the EU), the "interest game" for countries like Germany gets better and better.

Ah, you noticed the coincidence, too, right? The same country that's deciding what happens here has an incentive to make sure our situation doesn't actually improve. Life is full of coincidences.

So, you see, my fellow Europeans, when you mention Portugal's lack of credibility, the only thing that comes to mind is this quaint little phrase about a pot and a kettle.

Yours truly, etc...

Thursday, June 27, 2013

Surpreendente

A Irlanda está em recessão. Para mim, é surpreendente.

Os analistas estão surpreendidos. Já isto não tem nada de surpreendente.

Coloca-se a questão - qual o valor acrescentado de um analista que, perante uma notícia destas, tem a mesma reacção de um leigo?

Friday, June 21, 2013

O vazio

Segundo Poiares Maduro, um dos grandes problemas em Portugal é que "tudo é contestado". E dispara esta pérola: "Contra factos há sempre argumentos".

Vejamos, então, quais os factos mencionados por Poiares Maduro:
  • Não interiorizámos as consequências das escolhas que realizámos e conseguimos concretizar: aderir ao euro e estar na primeira linha da construção europeia.
  • Concordámos em mudar de regime democrático e em partilhar a moeda com os parceiros mais competitivos da Europa, mas não concordámos sobre as mudanças internas nas regras de jogo a que isso obrigava.
  • Na origem da crise económica que Portugal atravessa está um problema de cultura política e cívica, e que o país não terá promovido reformas nem se terá apercebido da necessidade destas.
  • As soluções para o futuro passam por discutir mais políticas públicas e menos táctica política, com a contribuição de todos, incluindo o Governo, para um debate público mais informado e com maior substância.
  • A continuação da consolidação orçamental é necessária, bem como garantir maior flexibilidade e equilíbrio entre o acesso ao emprego, estabilidade no emprego, incentivo à concorrência e a erosão das rendas.
  • Atingir equilíbrios, interno e externo, o que só será possível com a reforma do Estado, cujo objectivo é tornar permanentes os ganhos obtidos no processo de consolidação orçamental e garantir a sua sustentabilidade futura.
  • Garantir que o Estado social se pauta pela equidade entre o sector público e privado e da equidade entre gerações.
  • O nosso objectivo final é um país mais justo, próspero e livre.
Isto não são factos, são banalidades, e compõem um vazio absoluto. Se queremos factos, podemos começar por olhar para aquilo que gastaram todos os governos (incluindo este) e a quem se destinou esse dinheiro. E, quando chegou a hora de cortar, vamos ver onde cortaram todos esses governos.

A questão é que o "tudo" na expressão "tudo é contestado" é composto por inúmeras decisões que, ao longo de anos, deram origem um padrão: Criar rendimentos para boys e amigos, à custa de sacrifícios para a restante população.

Aliás, podemos olhar para um facto - não se corta a sério nas PPPs (ficamo-nos por estas migalhas recentemente anunciadas) com o argumento que o Estado assinou contratos que tem de cumprir, sob pena de de ser obrigado pelos tribunais.

Este é o mesmo Estado que arranjou forma de alterar a lei para pagar o subsídio de férias; que anunciou que vai alterar a lei referente aos serviços mínimos; que vai aplicar cortes nos salários dos professores que podem ser ilegais (e aqui fico-me pelo "podem", até confirmar). Quando se trata de cortar nos amigos, a lei é sacrossanta; quando se trata de cortar nos restantes, a lei vale o que vale e não há direitos adquiridos.

Contra factos não há argumentos.

Thursday, June 20, 2013

Os "jovens" da JSD perguntam qual o custo dos sindicatos para o Estado

Resposta:
  • Menos que o BPN.
  • Menos que as PPPs.
  • Menos que as "rendas do champagne".
  • Menos que o CCB
  • Menos que os estádios do Euro.
  • Menos que a Expo 98.
  • Menos que todos os grandes projectos cujos custos derraparam constantemente.
Just to name a few...

Os sindicatos são úteis? Não sei. Mas uma coisa é certa - na minha lista de prioridades de sangrias do Estado, estão bem lá no fundo.

Podemos chamar-lhes uma gota de água na sangria.

Wednesday, June 19, 2013

Dear EU taxpayers,

I often read about your outrage at the current state of countries like Portugal, after year upon year of European money (as in "your money") pouring in; I totally understand it. And yet, I can't keep from being perplexed by this unanswered question: Where have you been for the past 20 years?

The first visible contact many Portuguese had with the EEC, after Portugal joined, was with what we here called "Cursos da CEE", i.e., training courses subsidized by the European Social Fund (ESF). It was a good idea, and it was something Portugal sorely needed. However, it didn't take long for the first stories of mismanagement and downright fraud to surface. I was in my late teens at the time, I was definitely not that well informed, and yet I was getting these stories on a daily basis - how someone at one of those "cursos da CEE", showed up in the morning, signed the presence sheet and left for the rest of the day; or how someone else had positive grades even though he knew nothing of what was being taught.

My friends heard similar stories; at school, my schoolmates heard similar stories; talking to adults, they, too, heard similar stories. No one else in the whole of EEC heard about this? No one thought it might be a good idea to step in and say "Here, let us see exactly how is that training money being spent, and what benefits are the Portuguese reaping from it"?

In the 90s, the EU was calling us the "good student" (or the "bright pupil", or whatever nonsense someone thought would sound good at that time). In that same time frame, we were getting the first concrete stories about frauds with European money. Not just the ESF training money, but other types of subsidies (among the most notorious were the agricultural subsidies). One notable case in the news involved a worker's union that applied for training money and whose leaders went from average-income to wealth status in a few years.

So, the EU was telling us "good job!" at the same time our headlines were warning about malfeasance with EU's money. Am I the only one spotting an inconsistency, here? Once again, I ask: Where were you? It was your money, you worked hard for it. Didn't it bother you, this crescendo of worrisome signs on how that money was spent? You have embassies in Lisbon. Didn't your ambassadors watch the news? Didn't they relay signs of concern to your leaders? What were you doing?

I can assure you, if it was my money, I would want my people in charge of investigations (especially in a country with such an appalling judiciary as Portugal), and that's the point in time where I'd step in, to cut the party right at the beginning. That was the time for saying "Listen, we're the ones paying for this, we don't like all these signs we're getting, and now please move aside because we're stepping in to investigate". I, for one, would applaud, and national sovereignty be damned. It was your money, it was being misspent, and you had all the right to take control of the situation (which is what you're doing now; except that now it's too late).

My view is not particularly popular among the people with whom I discuss this. The usual argument I get concerns the "scandalous interference in internal affairs" such a "meddling" would cause, and that the EU has neither the power nor the right to do it. Of course, in what concerns "having the power", we need only look to Austria in 2000, and the EU-imposed sanctions over the electoral results of an extreme-right party, to see the EU has, in fact, the power to interfere in a member-state's internal affairs. And I agree it should have such power - if we're in this together, then the errors of the one affect the stability of the whole (which, to me settles the "having the right" bit).

Another example of this perplexing apathy came forward when the Cyprus crisis burst, this time in the person of Wolfgang Schäuble, who was quoted as saying something like: "Cyprus has been doing this for years"; "this" being "attracting foreign capital in a risky and potentially unsustainable fashion". And, once again, I ask: If the EU knew about this behaviour "for years", and if Cyprus is a member-state, what did the EU do to correct such behaviour in a timely fashion, thus preventing said risks? Why did the EU step in only after it became an emergency?

Dear taxpayers, you were, for the most part, robbed. I'd say a vast majority of the money Portugal received was spent on projects that did little to actually reform and advance the country; a good part of that money financed some of the wealthiest fortunes in Portugal. But it was done in the open. We didn't build stadiums for an Euro or highways that are almost empty... in secrecy. Our projects didn't go obscenely over-budget in discreet back-alleys, amidst scantily dressed prostitutes reclining on street lamps (thanks, Steven Moffat, your writing is brilliant); actually, given the way business is conducted, I can't vouch for the absence of prostitutes. Anyway...

Throughout the years we've had an abundance of signs and news stories that threw suspicion on how your money was being spent. You didn't care. You let a judiciary system you don't trust (I first heard this from an Austrian entrepreneur, as he explained it was the #1 reason for him not wanting to do business in Portugal) handle investigations on how your money was being spent. What were you thinking?

I really don't understand what happened. In 1987, I was hopeful, as Portugal joined a group of nations I considered better organized, more productive, more civilized (in my youth, when we talked about perfect countries, we talked about Sweden and West Germany). I seldom traveled, but when I finally had a chance to go somewhere, I went to Austria and Bavaria. Today, that admiration I had towards you is gone. I expect nothing of Europe, and these reforms you portray as imperative for EU's (and the eurozone's) recovery and stability will have no impact whatsoever, and Portugal (possibly, among others) will keep on sliding down; the most probable outcome will be for the weaker nations to slide off the euro, to keep from jeopardizing everyone else's stability.

As a Portuguese citizen, I don't deny our responsibility - we did it on our own. But I still have my unanswered question: Where have you been all these years, while your money was being wasted?

Tuesday, June 18, 2013

Aprendizes

 O relatório


Aí está ele, acabadinho de sair do forno, o relatório sobre as PPP que demonstra que a culpa é toda do passado.

O que não seria novidade, não fosse o pequeno facto de os autores deste relatório serem dotados de uma capacidade de observação um pouco... como dizê-lo...? Diferente! Isso, diferente... diferente da dos comuns mortais (nos quais me incluo). Podemos resumir o relatório da seguinte forma:
  1. Os contratos entre Estado e privados são, na sua esmagadora maioria, prejudiciais para o Estado.
  2. A responsabilidade recai sobre o governo de Sócrates.
Quanto ao ponto 1, totalmente de acordo. Não pelo princípio em si, i.e., não me choca a existência de privados a fornecer serviços em parceria com o Estado. Infelizmente, o que a realidade me apresenta, de forma continuada e consistente, são exemplos de como isto não resulta nem em aumento de qualidade de serviço, nem em poupança para o Estado. Sendo assim, dispenso essas parcerias.

Quanto ao ponto 2, alguém devia explicar a estes indivíduos que não é assim tão fácil apagar décadas de governação PSD e PS em que a regra foi o Estado sair sempre prejudicado nos negócios feitos com privados (já para não falar na quantidade de ex-membros de governo que integravam depois, por incrível coincidência, os quadros das empresas com quem o Estado fazia esses negócios).

O Estado não começou a sustentar os amigos quando Sócrates chegou ao poder; Sócrates "limitou-se" a manter a tradição que já vinha de trás. E não é justo dizer que foi Cavaco que deu início a essa tradição; Cavaco governou num período em que a CEE injectou dinheiro em barda no país (portanto havia imenso dinheiro para o Estado perder), e foi o seu governo o primeiro a dar outra escala a esta nobre arte do compadrio. Mas todos os que lá aterraram desde então (incluindo os actuais) não são melhores nem piores que Cavaco, são iguais.

Aprendizes de Sun Tzu

O livro "The Art of War" fala muito em "deception", que podemos traduzir como "dissimulação".

É o que temos neste relatório das PPPs - fala-se apenas de Sócrates & Cia., na esperança que ninguém repare nos outros. Foi o que tivemos, também, neste weekend que passou, nas fabulosas reuniões entre o ministro da Educação e os vários sindicatos/associações, que foram recebidos separadamente (isto das instalações modestas, com salas pequenas, é um problema). Em ambos os casos, o governo apresentou versões dos acontecimentos concebidas tendo esta "deception" como pano de fundo.

Nada a opor. Não é que concorde com isso, mas é um facto da vida que a "deception" faz parte da realpolitik.

Agora, há uma coisa que o camarada Crato e o autor deste relatório deviam perceber - "deception" não é apenas "distorcer" a realidade; é fazê-lo de forma a que a manobra não seja óbvia para qualquer pessoa com mais de um neurónio... ou sem palas, claro.

Não me chateia por aí além (vá lá, só me chateia um bocadinho) que estes indivíduos não tenham princípios. Agora, ser governado por quem não tem inteligência sequer para mentir é realmente mau.

Sim, eu sei, não precisam dessa inteligência. Têm sempre muita gente para os apoiar, por muita que seja a burrice que dizem/fazem. Palas...

Sunday, June 16, 2013

Quem espera...

No meu post anterior falei sobre o facto de o governo só ligar à Lei quando lhe convém. Disse isto: Geralmente, basta-me deixar o tempo correr para ver as minhas suspeitas realizarem-se.

E desta vez nem foi preciso esperar muito tempo. Esta novela da greve de professores em dia de exames trouxe-nos mais uma evidência de como, quando há vontade, se mudam as leis.

Confrontado com a decisão sobre os serviços mínimos, o nosso "querido líder" afirmou que iria mudar a lei que regula os serviços mínimos, de forma a que esta situação não voltasse a acontecer.

Ou seja, quando o nosso "querido líder" não gosta da Lei, esta muda-se.

O que só me pode levar a concluir que não se mexe a sério nas PPPs e nas "rendas do champagne" (EDP & Cia) porque o nosso "querido líder" gosta de lhes continuar a pagar.

Wednesday, June 12, 2013

O Estado e os tribunais

De vez em quando, fazia comentários num forum (não interessa qual é, não lhes vou fazer publicidade).

É um fórum que aceita comentários anónimos, mas, naturalmente, quanto mais utilizadores se registarem, melhor. Até porque o registo permite criar uma identidade e construir uma reputação num fórum online (vale o que vale, mas é um facto) .

Este fórum modera os comentários. Ou seja, eu faço o meu comentário e depois alguém, utilizando um critério que será mais ou menos arbitrário, aprova ou não esse comentário.

E é aqui que a coisa se espalha ao comprido. É suposto eu criar uma identidade nesse fórum e criar uma reputação à base daquilo que vou escrevendo; mas depois pedem-me para deixar a aprovação ou não nas mãos de terceiros, num processo que não me dá nenhuma espécie de feedback. Já me aconteceu estar numa troca de argumentos com alguém, (anónimo ou não, é indiferente), e a minha resposta não ser publicada, sem que eu perceba porquê (até pode ser uma coisa tão simples como uma falha do sistema). Olho para isto e digo "No problem, não me afecta". Não me afecta porque não criei uma persona naquele fórum, não me afecta porque quando passo por lá sou apenas mais um anónimo a "postar", portanto não me preocupo se uma troca de ideias onde não concordo nada com o argumento que me foi apresentado e onde acho que apresentei contra-argumentos válidos é cortada a meio.

Mas, uma coisa é certa - no que me diz respeito, não será assim que me registarei nesse fórum. Aliás, já nem faço comentários lá há umas semanas.

E agora a coisa atingiu um nível de ironia delicioso.

Uma das minhas últimas interacções nesse fórum foi com alguém que defendia que o governo não podia fazer mais para cortar nas PPPs porque isso significaria ir para tribunal, e o Estado estaria limitado pelas decisões de um tribunal.

Como se pode ver pelas notícias de hoje sobre as decisões do TC e os subsídios de férias, o Estado só está limitado pelas decisões de um tribunal quando lhe convém.

Se o Estado quisesse, podia cortar muito mais nas PPPs, não tenham qualquer dúvida disso. Eu próprio o disse, na minha resposta nesse fórum. Que não foi publicada.

Vamos esperar pelo final do ano, para ver se pagam. Geralmente, basta-me deixar o tempo correr para ver as minhas suspeitas realizarem-se.

Não por eu ser particularmente brilhante, mas apenas porque os anos me ajudaram a ir tirando as palas dos olhos. Ainda tenho muitas, sim, mas, pelo que vou lendo, tenho menos que a maioria dos meus concidadãos "cibernautas".

Friday, April 19, 2013

Seria só rir...

Heh... por onde começar?

A "ciência" económica

Bem, comecemos pelo fantástico "estudo" Reinhart-Rogoff. Sem ser o único estudo que alerta para os perigos do endividamento, é o mais citado, por isso merece o lugar de "honra" que lhe está actualmente reservado.

Vê-se muito comentador ilustre (e muito comentador menos "ilustrado") a falar das virtudes do "estudo", dos vícios do "estudo" ou do facto de as conclusões do "estudo" se manterem válidas.

Mas eu diria que a questão assenta num ponto fundamental: Não se pode chamar ciência à economia. 

A verdadeira ciência pressupõe um método científico que testa hipóteses, de uma forma controlada; uma vez estabelecidas relações de causalidade de forma repetível, essas hipóteses poderão dar origem a teorias. A economia massacra números, desconhecendo o que realmente está por trás dos mesmos (sem o controle e o rigor necessários a uma ciência), e cria automaticamente "teorias" que, por serem baseadas nesse desconhecimento, não provam causalidade de espécie alguma, o máximo que conseguem demonstrar é co-relação.

Seria o mesmo que os médicos receitarem sempre um medicamento para a constipação por alguém espirrar, por desconhecerem que a causa dos espirros poderia estar numa alergia. A economia é baseada no desconhecimento.

E isto não vai mudar. Não por os economistas serem menos capazes que os praticantes de outras actividades, mas por a actividade económica incluir um número gigantesco de factores que não são sequer directamente observáveis. É impossível fazer ciência numa situação destas.

Por fim, o problema maior da economia é que testa a validade dessas teorias directamente em seres humanos. E é este o seu único crime. O terrorismo destrói centenas de vidas em segundos; isto destrói milhões de vidas ao longo de anos. Isto não é ciência, é banha da cobra com uma embalagem que representa a melhor credibilidade que o dinheiro pode comprar. Aliás, até comprou um pseudo-Nobel, pago pelo Banco Central Sueco.

Merkel e o salário mínimo

A camarada Merkel volta a atacar. Desta vez disse que um salário mínimo generalizado poderá não ser uma boa ideia, pois não está relacionado com a produtividade. Em vez disso, aceita salários mínimos sectoriais.

Também aponta isto como a razão para a baixa taxa de desemprego na Alemanha. Eu gostaria de acreditar que ela terá dito "uma das razões", mas, vindo de quem vem, não vou arriscar. Either way, é mais um exemplo do pensamento "científico" dos incapazes: Determinar causalidade dá trabalho, portanto fica muito melhor atirar umas larachas. Até lhe dão tempo de antena, e tudo, porque não aproveitar?

Anyway, a ideia em si não me choca, mas acho piada que, quando se fala de rendimento vs. produtividade, se comece pelo salário mínimo. Sim, faz parte do que teria que ser revisto, numa óptica de produtividade, mas há outros pontos mais prioritários. Sugiro a seguinte escala:
  • Comecemos por analisar o rendimento da camarada Merkel e dos seus coleguinhas políticos por toda a UE. Qual tem sido a performance da UE? A UE está em ascensão? Boa, aumentem-lhes o salário, que estão a fazer um trabalho admirável; senão, se calhar está na hora da camarada Merkel praticar o que apregoa, começando pelo seu próprio salário.
  • Quantas empresas é que criam regra após regra, burocracia após burocracia, em nome de uma suposta gestão de recursos, e da fantástica falác... er, quero dizer, "regra" do "Se não consegues medir, não consegues gerir"? Quanto tempo e quanta produtividade é que se perde devido a isto? Já começaram a "ajustar" o salário destes burocratas empresariais?
  • Quando um comercial vende o impossível a um cliente, seja por ignorância, seja por má-fé, está a desestabilizar o funcionamento da sua empresa. Está a colocar um stress desnecessário em toda a gente que vai ter que produzir o que foi vendido ao cliente, ou em quem vai ter que compensar o cliente por ser impossível fazê-lo. Tudo isto vai levar a alterações de planeamento, renegociações, desperdício de tempo e produtividade. Já trataram desta questão?
  • Há gestores que baixam o preço do seu produto/serviço para lá do razoável. Depois, para manterem um saldo positivo, cortam no que pagam e/ou na dimensão das equipas que fornecem o produto/serviço. Criam um problema para o qual a única solução que possuem é a frase "Temos que fazer mais com menos". Ou seja, criam um problema que outros terão que resolver. Uma equipa sub-dimensionada deixa acumular trabalho, faz com que situações perfeitamente normais só sejam tratadas quando se tornarem em emergências (porque passa a vida a tratar de emergências) e pode passar mais tempo a reprioritizar tarefas do que a executá-las. Tudo isto é desperdício de tempo e produtividade. E disto, já trataram?
  • Há pessoas que não produzem. Seja por falta de formação, seja por falta de "motivação", seja por que motivo for, a sua produtividade é baixa. No entanto, na minha experiência, são muitos os casos em que essas pessoas não sofrem consequências por isso. Porquê? Porque quem as chefia não está para se chatear.  Quem as chefia não parece disposto a fazer o seu papel, simplesmente deixa andar e uma vez por ano (para as empresas que têm processos de avaliação) ocorre uma "conversa" sobre um conjunto de objectivos que, por vezes, nem sequer fazem sentido, e fica tudo como dantes. Já trataram de avaliar as chefias que não conseguem resolver o problema dos seus colaboradores?
Foram apenas 5 pontos que me ocorreram, sem ter que me esforçar muito. Depois de tratarem destes, força, vamos lá ao salário mínimo!

Até lá, camarada Merkel, abre mais os olhos e menos a boca.