Friday, September 13, 2013

Desigualdade? Tudo igual, como sempre

O camarada Crato afirma que "não se pode ensinar bem o que não se sabe bem". Muito observador, e creio que esta frase é um exemplar perfeito do seu brilhante raciocínio. Poderíamos sugerir-lhe algo igualmente óbvio, que também não se pode gerir bem o que não se conhece bem, mas isso não lhe serviria de muito. Ele não está a gerir nada, está apenas a destruir tudo o que pode, para criar um vazio que possa ser preenchido por um conjunto restrito de amigos que terão, mais uma vez, um lucro garantido pela acção do Estado.

Por falar nisso...

Ontem, no mesmo dia em que o nosso querido líder cumpriu o seu objectivo de colocar no seu lugar os pensionistas do Estado, esses milionários obscenos, a Oxfam aponta Portugal como um dos países que mais tem beneficiado as elites económicas e onde é maior o risco de desigualdade. É sempre bom ver outros a afirmarem o que penso, apesar de achar que quem diz isto, incluindo eu próprio, partilha o aguçado sentido de observação do camarada Crato. O único motivo pelo qual continua a ser preciso repetir isto é porque do outro lado (das elites sustentadas pelo Estado e dos seus amiguinhos) há muita gente a afirmar o contrário. Tudo bem; como disse alguém na minha adolescência, "a água reflecte o céu, portanto o céu por cima do Tejo é castanho".

Aparentemente, a austeridade não resolve. Eu creio que não é bem assim, a questão é mais complexa. Se deixarmos de lado a questão de juros baixos darem jeito à Alemanha & Cia, a verdade é que a austeridade até podia ser um caminho a seguir. O problema é que a elite que manda nisto (e neste caso não me refiro apenas aos sanguessugas nacionais) que austeridade one-sided - que toque aos outros, mas não a eles.

Se a austeridade tocasse realmente a todos, fosse feita com prioridades racionais (atingir quem tem mais antes de chegar a quem tem menos) e fosse seguida de um trabalho de monitorização e correcção, eu até acho que o efeito seria positivo e seria o primeiro a dizer "Venha de lá essa austeridade, e vamos lá despachar isto".

Mas o objectivo não é esse. O objectivo é dar dinheiro aos do costume - aqueles que não têm talento para ganhar dinheiro, nem querem trabalhar para o fazer. Para isso, é preciso, p.ex., privatizar serviços indispensáveis, porque só assim essa gente vai conseguir ganhar dinheiro, vendendo algo sem o qual as pessoas não possam passar.

A liberalização do mercado de trabalho assenta no mesmo princípio. A maioria das empresas não faz a mínima ideia do que significa "recrutar" e "gerir" recursos humanos. Pedem uns CVs, fazem umas entrevistas, montam uns sistemas de avaliação. E depois não conseguem perceber porque raio não são uma Valve. Não conhecem? Sim, é normal, mas vão lá aprender algo útil, vejam como se gere uma empresa, e como se cria riqueza sem precisar sequer estar na Bolsa.

E assim o Estado liberaliza o mercado de trabalho, porque as empresas não querem pagar o real custo da sua incompetência no que toca a esses aspectos de recrutamento e gestão. Mais uma vez, é o Estado que, mudando as regras do jogo, garante o lucro às empresas, à custa do resto da população.

É por isto que a austeridade não vai deixar o país melhor. Deixar o país melhor significaria deixar a generalidade da população melhor. Mas o objectivo é apenas alimentar os mesmos de sempre, cá dentro e lá fora.

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