Thursday, September 26, 2013

Bits and coisas

The first one is in English, the rest is in Portuguese.

Brussels threatens France

Yay! Finally, we see our Knights of the Innefective Table moving! Could it be the EU is stepping in to control a serious problem in a timely fashion, before it gets out of hand?

Not really, no.

Just as with Austria, in 2000, what moves our bastion of incompetence is a pseudo-concern for the minorities and the defense of the freedom of movement in the European space, due to anti-gypsy/roma statements by a French minister.

As is usual with the EU, the actual causes of the problem, which begin right "at home", in Romania and Bulgaria, won't be addressed. The EU supposedly financed projects worth several dozen million euros to integrate the roma in the romanian/bulgarian communities; however, judging by my experience in Portugal, I'll bet the effective follow-up and oversight on those projects was very close to none.

Anyway, it's the EU at its best: Failing to address the causes of a serious problem, and instead threatening to apply force in sweeping some dirt unde the rug.

Agora, em tuga.

Crato, pá, parabéns! Uma semana depois do arranque das aulas, já não ouço máquinas nem cheira a alcatrão na escola aqui em frente. Nada mau... Agora, é só resolveres todos os outros "casos pontuais".

O valor da economia paralela

Mais uma vez, a economia paralela é notícia. Mais concretamente, a sua dimensão. E, como de costume, lá vêm os habituais sermões sobre a responsabilidade de cada um de nós, sobre a necessidade de mudança de mentalidade, etc, etc, etc.

Eu digo o mesmo de sempre - o exemplo vem de cima. Querem resolver o problema? Acabem com o sigilo bancário, promovam a obrigatoriedade de publicação de rendimentos, acabem com as Holandas, as Irlandas e as Ilhas Caimão desta terra, e depois vamos lá tratar desta história das mentalidades.

First things, first.

PPPs

Já disse por diversas vezes que o Estado deveria fazer um corte a sério nas PPPs e, se isso não se revelasse exequível, cancelá-las. Cada vez que defendo isto, lá tenho que ouvir a conversa que isso é impossível, existem contratos que o Estado tem que honrar, mais a Lei e os tribunais e todas aquelas coisas que até fariam perfeito sentido num qualquer País das Maravilhas que não o nosso.

Mas, como já é costume, eu sigo a minha regra simples - esperar. Já por diversas vezes vimos a opinião que este governo tem sobre a Lei e os tribunais, e agora temos mais dois exemplos de rajada.

Lei da cobertura de campanha
Aparentemente, Passos está aborrecido porque os seus amigos não aparecem na TV e não temos as imagens de caminhadas e distribuição de sacos de plástico e autocolantes para permitirem aos eleitores uma "escolha informada". Já para não falar nos momentos edificantes em que alguém se cruza com a referida caminhada, tenta encetar um protesto e é imediatamente silenciado por um bando de gente a agitar bandeiras aos gritos e fisicamente afastado do local, para que não manche a novela das 20:00.

A lei em si é irrelevante, porque os partidos e os seus candidatos a tornaram irrelevante. Não consigo descrever o valor que dou à cobertura das eleições (sejam elas locais ou nacionais), apenas sei que tende para menos infinito. E nisto incluo os famigerados debates; sobre quem utiliza os "debates" para decidir em quem votar, ocorrem-me apenas duas letras: I-O.

O que tem isto a ver com PPPs? Simples. É mais um exemplo de como, quando se quer, as leis são alteradas.

40 horas na Função Pública
O Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos interpôs uma providência cautelar no Tribunal Administrativo e Fiscal de Lisboa, para impedir que entrasse em vigor o aumento do horário de trabalho para 40 horas.

E o que é que o governo se prepara para fazer? Invocar o interesse público para fazer o override da providência cautelar.

O que se demonstra é que este governo, tal como todos os outros, altera o que quer. Se não tratou ainda das PPPs é porque não quer.

EDP processa

O Amigo Chinês está aborrecido.

Vejam lá que parece que vai ter que devolver dinheiro aos clientes por causa de erros no seu equipamento. Onde já se viu uma coisa destas? Como o Amigo Chinês não está habituado a isto de ter que respeitar os direitos dos outros, lá mandou Catloga & Cia. processar a ERSE.

Era só o que faltava. Qualquer dia, se um lote de automóveis tivesse um problema, iam obrigar a marca a recolhê-los para o resolver, querem ver? Está tudo doido, não?

Além disso, o Amigo Chinês não gostou da interpretação do Estado relativa a uma lei sobre a tarifa social, e quer fazer valer a sua interpretação dessa mesma lei. O que, na prática, equivale a mudar a lei. O que também se percebe, se tivermos em conta que estamos a lidar com o Amigo Chinês.

As interpretações divergem num ponto - quem deverá pagar a tarifa social. De um lado, diz-se que é o produtor; do outro, o consumidor. Deixo como exercício ao leitor atento determinar qual será a interpretação do Amigo Chinês.

Mas, no problem, certo? É só mudar para a concorrência! Ah, não...? O Estado vendeu a infraestrutura de produção ao Amigo Chinês, e a concorrência de que se fala é uma aldrabice, pois o Amigo Chinês vai sempre receber, seja quem for o fornecedor de energia...?

Vely typical of us...

Friday, September 20, 2013

Educação... Lembrei-me do Guterres, não sei porquê...

Ora aí está o camarada Crato em todo o seu esplendor.

Começo por dizer que hoje é 6ª feira. Aqui em frente a minha casa, tem sido uma semana de aulas, embalada pelo barulhos dos camiões e das máquinas e perfumada pelo aroma do alcatrão.

Segundo Crato afirmou há uns dias, está tudo a correr na normalidade, à excepção de uns "casos pontuais". Deve ser isso, então; em frente a minha casa tenho um exemplo de "pontualidade" do Crato.

Mais "engraçada" ainda é a questão dos manuais de Português e Matemática. O Ministério da Educação Cratino (MEC) introduziu alterações a estas duas disciplinas; mas garantiu que os manuais escolares existentes continuavam a poder ser utilizados, i.e., que os pais não eram obrigados a comprar os novos manuais.

O que o MEC se esqueceu foi de dizer que a coexistência de diferentes manuais nas salas de aulas tem que ser gerida pelos professores, i.e., é através de um esforço adicional dos professores que se garante essa coexistência.

Vejamos então a performance do camadara Crato:
  • Apresenta uma solução que não resolve nada, mas passa o esforço de a implementar para terceiros.
  • Fica bem na fotografia, pois diz aos pais, apertados em tempo de crise, que não precisam de comprar manuais.
  • Apesar do ponto anterior, fica bem com os amigos das editoras, pois, a confirmarem-se as denúncias de pais e professores, o mais certo é haver muitos pais que vão fazer o sacrifício para que os seus filhos não tenham um handicap em duas disciplinas de exame.

Isto, meus caros, é um verdadeiro case-study de "solução" típica de líder tuga:
  • Não resolve nada.
  • Obriga os colaboradores a desperdiçar esforço (e, portanto, produtividade).
  • Incide sobre algo que é essencial para as pessoas, o que garante receita aos amigos que vendem esse bem essencial.

É apenas mais do mesmo, seja dos líderes públicos, seja dos privados, principalmente dos privados que têm no Estado o garante do seu negócio. Afinal, quem tem um rendimento máximo garantido, não precisa de "fazer bem", apenas de "fazer acontecer".

Thursday, September 19, 2013

Europeans, the slow learners

Now, don't get me wrong, my fellow Europeans, but... you're a bit slow on the uptake, aren't you...?

After being pretty much robbed blind for 25 years, you're coming back for more, to the tune of 21K million euros in 6 years. Jesus!

Pray, tell... what exactly are you expecting to be different, this time? Have you required better safeguards? Are you - finally - going to take an active role in auditing the expenditure?

Or are you just shoving some more money here, and, 10 years down the line, complain you've been robbed... again?

Germany may be headed in the right direction, with its anti-euro party. Yes, I know. It will be catastrophic for Portugal, and I shouldn't be saying it's the right direction.

But I'm tired of this. It's been 25 years being led by bullshit artists (both national and foreign), so maybe the only real solution for us is to crash and burn, and become the new Albania. It's pretty much what we've been for a large part of the XX century; and, in all honesty, it wasn't our own effort that got us out of that situation.

Ah, what do I know?

All I'm saying is this - the vast majority of this money that's heading our way is going to waste, in an exact copy of what happened in the previous 25 years. By "waste", I mean it's going to be spent on projects of dubious need (at best), at both inflated prices (that will inevitably go over-budget) and penalizing terms to the State, in order to fill the pockets of a restricted number of individuals.

And in 2020 the country won't be any different from what it is now, unless conjunctural circumstances force some extreme change upon us; but there's a higher probability of such an event pushing us towards Bangladesh, rather than Northern Europe.

In short, my fellow Europeans - you haven't learned anything.

Wednesday, September 18, 2013

The IMF's Oops...

First, two notes, in Portuguese (yep, I believe this is a first - the notes in Portuguese, the main subject in English).

Nota 1: Aparentemente, 2 fundos do BES investiram, desde 2008, +/- 2.2K milhões de euros exclusivamente em empresas do universo BES. Até aqui, tudo bem - investem onde quiserem, e a família acima de tudo. O divertido da questão é que os fundos em causa são apresentados como sendo de "risco reduzido". Obviamente. Afinal, é bem sabido que uma estratégia de quem procura reduzir o risco é investir tudo exclusivamente no mesmo cesto.

Nota 2: Bruxelas desconfia que o preço que a EDP pagou pelas concessões de exploração hidoreléctrica poderá não ter sido o "adequado". Isto aconteceu em 2007, e eles estão a abrir um inquério agora. E ainda falo eu mal da Justiça portuguesa.

Let's move on, shall we?

Those wacky folk at the IMF are at it again. This time, a team of their "technical staff" presented a report, "Reassessing the Role and Modalities of Fiscal Policy in Advanced Economies"; their conclusions in this report can be neatly summed up as: "Oops!"

Yep. The IMF team that authored this report looked at the policies put forth by the IMF in response to the crisis (policies enacted in countries like Portugal), and said that those policies might be "a wee bit" wrong on a number of fundamental aspects.

Upon reading this, I first felt outraged, thinking of all the lives damaged by these policies. But, as the outrage died and I considered all facts with a cooler head, I've reached a saddening conclusion - it's irrelevant.

At this point, these IMF staffers say they failed; and they present solutions. But their solutions are as worthy as their previous solutions, which they now say were incorrect.

As I said in previous posts, this is economy. Like most pseudo-sciences, economy likes to surround itself with the trappings of Science, in the hope that people will mistakenly assume it as such. But, unlike scientists, economists have no way of knowing, with any reasonable degree of certainty, whether or not they're right. They have no way to offer proof or demonstration of their theories, other, that is, than implementing said theories on the field and testing them on those countries that can't tell them to bugger off. Ergo, affecting real lives to prove or disprove their theories.

And there you have it: The IMF, the credible institution. Right "up" there, with the rating agencies, the Eurogroup, or Al-Qaeda. All similar, in the way they spout nonsense that is backed by no demonstrable evidence, and that everyone else is supposed to accept as an act of faith.

So, faced with this report that says "Our policies got some fundamental issues wrong", all I can say is: Welcome, IMF. Notice the vast amount of people here at this spot where you have just arrived. Notice, also, that all these people arrived at this spot (let's call it "conclusion", shall we?) waaaaaaay earlier than you did.

Not only does it speak volumes about your credibility, but also about your competence. But, what the heck! We can't demand much from those whose work is based on faith, can we?

Monday, September 16, 2013

Crato, amigo...

Tu que estás sempre em contacto com as escolas... Sabes aquela escola que tenho em frente a casa, onde tem havido obras todos os dias sem descanso...?

Vê lá tu o que tenho mesmo em frente a casa, neste preciso momento (09:00):
- Barulho de camiões e máquinas vindo da escola.
- Um monte de pais e alunos do lado de fora da escola, à espera.
- Buzinadela q.b. do pessoal que quer passar e não consegue, por causa dos carros em segunda fila, dos pais que vieram deixar os miúdos para o que deveria ser o primeiro dia de aulas.

Parabéns, Crato. É preciso ser alguém muito especial para atingir um nível destes.

Update: Crato, pá, isto é melhor que o que eu pensava. Os miúdos já entraram e os pais já se foram embora. Os miúdos estão nas salas de aula, e o barulho das obras cá fora regressou, em todo o seu esplendor.

Tenho mesmo que admitir, a gestão da equipa que lideras merece um case-study.

Update 17-09: Yep, ainda se ouvem as máquinas e marteladas.

Update 18-09: Hoje, para além do barulho das máquinas e dos camiões, temos ainda o inspirador aroma do alcatrão.

Sunday, September 15, 2013

O compromisso do amigo chinês

Aqui há um ano e tal, se bem se lembram, arranjámos (o País) um tacho fenomenal ao Catroga e a mais uns amigalhaços. Não repararam? Foi quando apareceu o nosso querido líder a afirmar que o país "devia muito ao Dr. Catroga".

Na altura, falou-se muito do excelente negócio "para ambas as partes", pois com a privatização da EDP aos chineses, o investimento chinês havia de chover cá pelo burgo. Aliás, a privatização incluía um acordo no qual a China Three Gorges se comprometia a certos investimentos.

Afinal, parece que o "compromisso" era apenas um "best effort", i.e., talvez um dia, quem sabe, se o alinhamento dos astros se conjugar, o investidor chinês possa considerar a possibilidade de discutir uma proposta de análise de investimento.

Agora, o governo português diz que "Por ocasião da privatização da EDP, foram criadas expectativas de investimento", e pediu ao amigo chinês um "ponto de situação" sobre esses mesmos investimentos.

Cheira-me que o amigo chinês, agora que já tem o que queria, lhe vai mandar um ponto final.

Saturday, September 14, 2013

Sem Educação e sem Juízo

O camarada Crato teve ontem um pequeno percalço com uma professora, em Viseu. Mais uma vez, as suas respostas demonstraram o seu carácter, o seu espírito democrático e, no caso desta que aqui apresento, a sua educação: "essa senhora devia estar com alguma vocação psicanalítica".

O camarada Crato afirmou ainda: "Estou em colaboração com os politécnicos, com as universidades, com as escolas". Não tenho dúvida disso. Porquê? Aqui em frente a minha casa tenho uma escola primária. Desde há semanas que tenho o "prazer" de ter um conjunto de indivíduos e máquinas a trabalhar das 08:00 às 19:00 (aprox.), todos os dias, incluindo Sábados e Domingos. E, mesmo assim, não conseguiram ter a obra pronta antes do início do ano lectivo. Ainda agora (Sábado) aqui estão a trabalhar.

É por isso que não duvido do que disse o nosso Educador-Mor. Este padrão de gestão (trabalhar todos os dias, sem descanso, e mesmo assim falhar o objectivo) assenta-lhe que nem uma luva. Bom, a bem da verdade, assenta-nos a todos, como povo. Mas, como diz a regra, a responsabilidade encontra-se no topo. Se quando as coisas correm bem são os gestores de topo que recolhem os louros, não esperem que, quando correm mal, eu vá pedir responsabilidades ao porteiro.

Anyway, já chega de fait-divers...

Os nossos juízes continuam a demonstrar o motivo pelo qual a Justiça portuguesa se destaca das suas congéneres europeias. E, mais uma vez, no Tribunal da Relação do Porto, que parece ser um caso exemplar da qualidade de Justiça que temos cá pelo burgo. Neste caso, trata-se de um psiquiatra que teve relações sexuais com uma paciente grávida. Citando a notícia:
dois dos juízes desembargadores entenderam que o facto de ele ter agarrado na cabeça da doente e lhe ter introduzido o pénis na boca e, de seguida, a ter empurrado para o sofá, onde concretizou sexo vaginal, não constituiu violência suficiente para configurar o crime de violação

Depois, o Supremo invocou formalidades para não se pronunciar, e isto tem andado a marinar, entre recursos e outros atrasos legais do género. O mesmo se passa na Ordem dos Médicos (OM); Manuel Rodrigues e Rodrigues, responsável do conselho disciplinar regional da OM, afirma que estas demoras são normais, desculpando-se com a demora dos tribunais e com a pena proposta (expulsão da OM), que exige o rigor absoluto em todos os trâmites.

Bem, e enquanto todas estas entidades, Supremo Tribunal de Justiça, Tribunal da Relação do Porto e Ordem dos Médicos, nos demonstram a qualidade do seu trabalho, o referido psiquiatra tem toda a liberdade para continuar a exercer este seu tipo de psiquiatria. Segundo estas entidades, o senhor doutor não terá feito nada de errado que justifique, sei lá, suspender o seu direito de excercer esta actividade.

Friday, September 13, 2013

Desigualdade? Tudo igual, como sempre

O camarada Crato afirma que "não se pode ensinar bem o que não se sabe bem". Muito observador, e creio que esta frase é um exemplar perfeito do seu brilhante raciocínio. Poderíamos sugerir-lhe algo igualmente óbvio, que também não se pode gerir bem o que não se conhece bem, mas isso não lhe serviria de muito. Ele não está a gerir nada, está apenas a destruir tudo o que pode, para criar um vazio que possa ser preenchido por um conjunto restrito de amigos que terão, mais uma vez, um lucro garantido pela acção do Estado.

Por falar nisso...

Ontem, no mesmo dia em que o nosso querido líder cumpriu o seu objectivo de colocar no seu lugar os pensionistas do Estado, esses milionários obscenos, a Oxfam aponta Portugal como um dos países que mais tem beneficiado as elites económicas e onde é maior o risco de desigualdade. É sempre bom ver outros a afirmarem o que penso, apesar de achar que quem diz isto, incluindo eu próprio, partilha o aguçado sentido de observação do camarada Crato. O único motivo pelo qual continua a ser preciso repetir isto é porque do outro lado (das elites sustentadas pelo Estado e dos seus amiguinhos) há muita gente a afirmar o contrário. Tudo bem; como disse alguém na minha adolescência, "a água reflecte o céu, portanto o céu por cima do Tejo é castanho".

Aparentemente, a austeridade não resolve. Eu creio que não é bem assim, a questão é mais complexa. Se deixarmos de lado a questão de juros baixos darem jeito à Alemanha & Cia, a verdade é que a austeridade até podia ser um caminho a seguir. O problema é que a elite que manda nisto (e neste caso não me refiro apenas aos sanguessugas nacionais) que austeridade one-sided - que toque aos outros, mas não a eles.

Se a austeridade tocasse realmente a todos, fosse feita com prioridades racionais (atingir quem tem mais antes de chegar a quem tem menos) e fosse seguida de um trabalho de monitorização e correcção, eu até acho que o efeito seria positivo e seria o primeiro a dizer "Venha de lá essa austeridade, e vamos lá despachar isto".

Mas o objectivo não é esse. O objectivo é dar dinheiro aos do costume - aqueles que não têm talento para ganhar dinheiro, nem querem trabalhar para o fazer. Para isso, é preciso, p.ex., privatizar serviços indispensáveis, porque só assim essa gente vai conseguir ganhar dinheiro, vendendo algo sem o qual as pessoas não possam passar.

A liberalização do mercado de trabalho assenta no mesmo princípio. A maioria das empresas não faz a mínima ideia do que significa "recrutar" e "gerir" recursos humanos. Pedem uns CVs, fazem umas entrevistas, montam uns sistemas de avaliação. E depois não conseguem perceber porque raio não são uma Valve. Não conhecem? Sim, é normal, mas vão lá aprender algo útil, vejam como se gere uma empresa, e como se cria riqueza sem precisar sequer estar na Bolsa.

E assim o Estado liberaliza o mercado de trabalho, porque as empresas não querem pagar o real custo da sua incompetência no que toca a esses aspectos de recrutamento e gestão. Mais uma vez, é o Estado que, mudando as regras do jogo, garante o lucro às empresas, à custa do resto da população.

É por isto que a austeridade não vai deixar o país melhor. Deixar o país melhor significaria deixar a generalidade da população melhor. Mas o objectivo é apenas alimentar os mesmos de sempre, cá dentro e lá fora.

Monday, September 9, 2013

A T do M...?

Apesar de concordar que os recentes números do desemprego e da economia são positivos, há uma coisa que ainda não ouvi ninguém dizer: Estamos no Verão. Se esta tendência se mantiver no 4T 2013 e no 1T 2014, aí concordo que será algo para nos fazer pensar.

Senão, é como a história de nos colocarem à frente em letras garrafais a excelente performance das exportações, e depois, no final da página, lá mencionarem, meio a contragosto e em letra minúscula, o peso que a exportação de combustíveis tem nesse indicador.

Friday, September 6, 2013

Retratos desta gente que nos cerca

1. A falta de juízo

Os nossos extraordinários juízes continuam a demonstrar-nos que, para além do problema de produtividade (i.e., quantidade), também a qualidade do seu trabalho deixa muito a desejar.

Desta vez, temos a decisão de não colocar em prisão preventiva um homem que violou uma menina de 14 anos. A justificação? A menina já teria tido relações sexuais. Isto é uma burrice a tantos níveis, que nem sei por onde começar, e hoje não me apetece desenvolver muito.

Deixo apenas mais este exemplo de como esta gente não merece a confiança que o cargo lhes confere.

2. O triunfo das múmias

Chamam-lhes "dinossauros", mas na realidade, parecem mais múmias, nas suas pirâmides, os seus centros de poder.

A decisão do TC, ontem, garante que os nossos autarcas mumificados vão poder mover essas pirâmides de município em município, e perpetuar o seu poder até se desfazerem.

O quê? O povo não o permitirá? Esse seria para rir, mas não me apetece. O grau de exigência do povo anda ali algures entre o zero e o menos infinito; basta ver os casos do Isaltino e afins.

E parece que, desta vez, o "Partido do Bom Senso" não se multiplicou em críticas ao TC e à Constituição. Aparentemente, quando fazem o que nós queremos, está tudo bem. O que diz muito sobre o carácter desta gente.

3. A eficiência dos privados

A revisão ao Estatuto do Ensino Particular e Cooperativo aprovada ontem demonstra, mais uma vez, como funciona a famigerada "eficiência dos privados" em Portugal.

E como funciona? Simples. Como os supostos "gestores" das entidades privadas não têm talento nem competência para gerar os lucros pretendidos, necessitam que o Estado garanta uma parte significativa desses lucros.

É apenas isso que está em causa. A "liberdade de escolha" é mais um sound bite, repetido até à exaustão, para enganar os mais distraídos.

Mas não surpreende. É só mais uma Cratinice. Que não é muito diferente das outras que este governo e todos os anteriores já fizeram; afinal, sem a contribuição do Estado, esta gente não conseguiria juntar fortunas.

Thursday, September 5, 2013

Flexibilidade de carácter

Flexibilizar uma estrutura pode torná-la mais resistente. É uma lição simples, que podemos aprender, p. ex., olhando para diversos tipos de árvores e para a forma como reagem ao vento. São inúmeros os exemplos de árvores mais flexíveis que resistem a tempestades, enquanto outras, mais rígidas, vão abaixo.

Portanto, a flexibilização não é necessariamente algo negativo ou prejudicial. No entanto, é inegável que tem um efeito negativo sobre a estabilidade das estruturas às quais se aplica (vide, novamente, o exemplo das árvores).

Ontem foram anunciados os resultados do relatório do ranking de competitividade do Fórum Económico Mundial; Portugal desceu dois lugares. Este relatório combina dados estatísticos com as respostas de um inquérito feito a +/- 130 empresários portugueses, que procura definir quais as suas principais preocupações, qual a sua visão sobre o que é necessário melhorar no país.

Entre essas preocupações encontra-se a "eficiência do mercado laboral", sendo a lei laboral apontada como um factor negativo para quem exerce actividade económica em Portugal. Desde sempre que as associações de empresários pedem a flexibilização destas leis - a possibilidade de contratar e despedir conforme a evolução da economia; a possibilidade de despedir alguém que não seja "reutilizável" após uma evolução tecnológica numa empresa; maior facilidade em movimentar trabalhadores para partes distantes do país (esta nunca percebi, sempre pensei que o pudessem fazer, salvo existência de uma cláusula contratual que o impedisse explicitamente).

Lendo isto, poder-se-ia pensar que a lei laboral deixa os empresários de mãos atadas no que toca à gestão dos seus recursos humanos. A realidade é outra. O que os move não é o direito de gerir o seu "stock" de recursos humanos a seu bel-prazer, mas sim o custo de exercer esse direito. Os empresários querem que o Estado lhes baixe esse custo; e, graças a estas admiráveis criaturas, nacionais e estrangeiras, que hoje mandam no país, o Estado está a fazer-lhes a vontade.

Também ontem, vi os líderes das associações de empresários a pedir uma reforma do IRC duradoura. Porquê? Segundo eles, as empresas necessitam de estabilidade.

É curioso, não é? Os empresários querem estabilidade para as suas empresas, i.e., para si próprios e para o seu plano de vida profissional. No entanto, pelas alterações que pedem à lei laboral, estão a dizer que a restante população trabalhadora não deverá ter direito a essa estabilidade.

Afinal, se eu puder contratar e despedir conforme acho necessário, e isso não me causar um custo por aí além, quem trabalhar para mim dificilmente terá alguma espécie de estabilidade.

É revelador ver os empresários a exigir ao Estado aquilo que querem que o mesmo Estado negue aos outros. Revela com precisão o carácter desses empresários.

Wednesday, September 4, 2013

Shine on, Walkie Talkie

They're building this brilliant skyscraper in London, the Walkie Talkie.

To further amplify the brilliance of the building, its designers made its mirrored reflective surface concave.

Apparently, in what said designers consider an unanticipated problem, the building is concentrating the sunlight with enough power to, say, melt a car. A Jag, in this case.

Unanticipated, they say.

Indeed, who would have thought that a concave reflective structure would concentrate the reflected rays on a single point...? Will the wonders of modern techonology ever cease to amaze us?

Funny thing, though... I just performed a search on google for «concave vs convex». The very first result has an image, with several intriguing concepts; one says "Concave mirror - causes light rays to meet, or converge". So, apparently cutting-edge science like this seems to be widespread on the internet, these days.

But the pièce de résistance is definitely blaming the "current elevation of the sun in the sky". I also like the solution - just wait for autumn. I'm assuming something will be done to correct the sun's problematic elevation, come next spring, right?

I suggest a stern conversation with our "brightest star", making it clear that such behaviour is to be avoided in the future.

Monday, September 2, 2013

E o Passos também

E a comédia continua. Depois de Maduro, que percebe mais que os outros, temos Passos, o dono do bom senso.

Passos começa por acusar o TC de proteger "mais os direitos adquiridos do que as gerações do futuro". Pedrito, e essas PPPs, hã? Estão bem de saúde e recomendam-se, certo? Bem, não para o Estado, mas isso já nós sabemos. Quase que seria capaz de acreditar nesta afirmação do nosso querido líder, porque se há coisa que ele percebe é de proteger direitos adquiridos. Só de alguns, claro; os outros estão cá apenas para produzir (alguém tem que o fazer) e pagar.

Depois, afirma que as gerações mais novas não têm culpa do que se passou. Totalmente de acordo. O que o nosso querido líder não diz é que a esmagadora maioria dos que têm pago a factura também não têm culpa do que se passou. Não foram eles que aprovaram resgates a bancos geridos por aldrabões e especuladores, nem assinaram contratos de parceria totalmente descerebrados, nem venderam acções com lucros superiores a 100%.

Mais uma vez o nosso querido líder alimenta as suas divisões preferidas (função pública vs. trabalhador privado, gerações "novas" vs. gerações "velhas"), para que ninguém se concentre na verdadeira divisão que este governo, tal como todos os anteriores, mantém - os amiguinhos que o Estado sustenta vs. o povo que paga esse sustento.

O resto do discurso andou sempre à volta desta conversa inútil - não conseguimos resolver os problemas porque o Big Bad Tribunal Constitucional não deixa. Na realidade, não conseguem resolver os problemas porque não os querem resolver, porque a única solução eficaz significaria retirar o lucro garantido a muita gente que, sem esse "direito adquirido", não conseguiria fazer figura de grande gestor nas revistas cor-de-rosa da especialidade. Assim, é "preferível" atacar mais abaixo, para não danificar as teias criadas mais acima nas últimas décadas.

Qual seria a solução eficaz? O primeiro passo é simples - suspender as PPPs (renegociar não é uma opção quando ambos os lado têm o mesmo objectivo, que é sacar o máximo possível ao Estado); acabar com rendas a empresas e fundações; cancelar pensões atribuídas após meia-dúzia de anos de desempenho de funções; anular rendimentos pagos por entidades estatais a pessoas que já não trabalham nessas entidades e que recebem esses rendimento apenas porque um dia lá trabalharam.

A propósito, esta é a verdadeira divisão do nosso país. Tudo o resto é inventado para encher cabeçalhos e distrair o povinho.

Não digo que isto, por si só, resolva tudo. Sim, precisamos da reforma do Estado. E talvez até precisemos da tal perda salarial de que a nossa elite tanto gosta. No entanto, sem as medidas acima, vamos continuar o caminho que andamos a trilhar nas últimas décadas - anda uma esmagadora maioria a pagar os luxos e os vícios de uma "elite".

Ah, e quanto ao que o nosso querido líder não teve coragem de dizer, e mandou recado pela JSD. Por mim, reveja-se a Constituição, plenamente de acordo. Tenho já algumas sugestões:
  • Responsabilidade criminal para todos os detentores de cargos públicos (local e central).
  • Proibição de contratação de serviços por ajuste directo.
  • Obrigatoriedade de referendo para qualquer negócio em que o Estado tenha que pagar mais de 500,000 euros. O valor é demsaiado baixo? Bem se vê que vocês não conhecem as nossas elites. Se for preciso, dividem um projecto de 2 milhões em 4 sub-projectos de 499,999.
  • O programa eleitoral com que um governo é eleito passará a ser a lista de objectivos segundo o qual será medida a produtividade desse mesmo governo. Avaliação anual desses objectivos e, se o governo não cumprir os objectivos a que se propôs, terá lugar um referendo sobre se esse mesmo governo se deve manter em funções ou deve ser demitido.
  • Definição, através de referendo, de um objectivo popular para uma legislatura. Este não seria incluído no ponto anterior, sendo avaliado apenas no final da legislatura.
Volto a repetir o que sempre disse - não tenho nada contra a austeridade, e estou disposto a encarar os sacrifícios necessários para sairmos disto. Mas não quando vejo toda a gente que continua a encher o bolso à conta do Estado, como se não existisse crise, e a quem os sacrifícios não tocam.

Sunday, September 1, 2013

O Maduro é divertido

O camarada Maduro andou a a divertir o pessoal outra vez. Não, não é o da Venezuela. Esse, já sabemos que tem um potencial de diversão que tende para mais infinito. Refiro-me ao que temos por cá, o Poiares Maduro, que é de calibre semelhante ao da Venezuela, mas gosta de pensar que não é.

Desta vez, temos as seguintes pérolas:
  • É inevitável reduzir pensões
Para "garantir a sustentabilidade da Segurança Social", claro. As reduções terão em conta "aqueles que estão em situação de maior fragilidade". E, ao que parece, a convergência entre a Segurança Social e a Caixa Geral de Aposentações é uma forma das formas de empenho do Governo em proteger os que estão nessa situação de "maior fragilidade". E, mais uma vez, se falou na história da equidade.
  • O Tribunal Contitucional (TC), esse gerador de clivagens entre as gerações
O nosso humorista Maduro afirmou isto:
"Discorde-se ou não da decisão do Tribunal Constitucional recente, é dizer que o espaço de ação política para uma geração é de um tipo e o espaço de ação política e os direitos para outra geração é de outro tipo. Concorde-se ou não com a interpretação constitucional do tribunal é essa a consequência: é uma segmentação das políticas possíveis e dos direitos possíveis para diferentes gerações"

De seguida, surgiu "Maduro, o Esclarecido", afirmando que o TC tem dificuldade em entender a política e a lei fundamental no espaço e no tempo em que elas devem ser lidas e interpretadas. O que, traduzido para português, significa "Nós (Governo) é que percebemos disto, os juízes do TC, além de lentos, estão desactualizados".

Seguiram-se mais afirmações brilhantes que, de uma forma ou de outra, andaram sempre à volta destas ideias de que o TC não percebe o que faz, nem o contexto politico-temporal em que se encontra inserido; e que isso poderá, inclusivé, colocar em perigo a democracia para as gerações futuras.

  • A solidariedade e a austeridade
Ah, sim, ainda houve tempo para a velha fábula dos poupadinhos solidários e dos mauzões gastadores que estão agora a receber o castigo que merecem.

Então, vejamos...
  • É inevitável reduzir pensões
Caro Nicol... er, quero dizer... estou sempre a confundir os dois, é melhor ficar-me por Maduro...

Bem, caro Maduro. Só é inevitável reduzir pensões porque o governo do qual faz parte não só se está completamente nas tintas para a tão apregoada "equidade", como ainda aqueles que mais protege não são os que estão em situação de maior fragilidade.

Vamos sempre dar ao mesmo - o motivo pelo qual "não há dinheiro" é porque o dinheiro - que, por acaso, até existe - está a servir para alimentar os amigos das PPPs, das rendas, do BPN... bem, não vou repetir tudo outra vez, caro Maduro, tem aqui uma listinha. É básica, mas é um princípio.

É toda a gente que se alimentou (e ainda alimenta) de tudo o que se gastou nessa lista que o Governo protege. Apenas esses, e mais ninguém.

  • O Tribunal Contitucional (TC), esse gerador de clivagens entre as gerações
Caro Maduro, mais uma vez as suas palas parecem não o deixar ver alguns factos fundamentais.
  1. O maior criador de clivagens cá do burgo é o Governo do qual faz parte.
  2. O facto de alguém ter uma opinião diferente da sua não significa que esse alguém não saiba o que está a dizer. Ah, e assenta-lhe que nem uma luva dizer que respeita muito a opinião do outro, para depois afirmar que o outro tem dificuldade em perceber aquilo de que fala.
  3. Não são as decisões do TC que colocam em perigo a democracia. São as decisões dos líderes (actuais e passados) do Estado (central e local) que afastam as pessoas da política, que fazem com que a imagem de todos os políticos (literalmente sem excepção) esteja pelas ruas da amargura. Aliás, nada tem sido mais destrutivo para a democracia que a clivagem entre a Europa dos "bem comportados" e a Europa dos "doidivanas".

  • A solidariedade e a austeridade
Sobre os nossos vizinhos poupados, não tenho muito mais a acrescentar ao que já disse.

Quanto a nós, os doidivanas gastadores. Caro Maduro, os grandes doidivanas gastadores das últimas décadas no nosso país não são os funcionários públicos que o Governo agora quer despachar, nem os pensionistas cujos rendimentos se torna imperativo cortar. Os verdadeiros gastadores são os que ocuparam cargos públicos ao longo dessas décadas e que fizeram negócios com privados que foram, numa esmagadora regra geral, prejudiciais para o Estado. Que é como quem diz, os seus colegas, presentes e passados.

Sem esses negócios, esses privados altamente eficientes não teriam conseguido os belos lucros que conseguiram. E ainda conseguem, porque a esses, aparentemente, não é inevitável cortar o rendimento.

O Estado tem dinheiro. Só não consegue é continuar a sustentar camaradas como o Maduro e os seus amiguinhos, que querem um belo lucro mesmo quando não têm competência para gerir sequer uma mercearia. Mas como no lucro dos amigos não se toca, para os nossos queridos líderes é inevitável cortar nas pensões.