Thursday, June 27, 2013

Surpreendente

A Irlanda está em recessão. Para mim, é surpreendente.

Os analistas estão surpreendidos. Já isto não tem nada de surpreendente.

Coloca-se a questão - qual o valor acrescentado de um analista que, perante uma notícia destas, tem a mesma reacção de um leigo?

Friday, June 21, 2013

O vazio

Segundo Poiares Maduro, um dos grandes problemas em Portugal é que "tudo é contestado". E dispara esta pérola: "Contra factos há sempre argumentos".

Vejamos, então, quais os factos mencionados por Poiares Maduro:
  • Não interiorizámos as consequências das escolhas que realizámos e conseguimos concretizar: aderir ao euro e estar na primeira linha da construção europeia.
  • Concordámos em mudar de regime democrático e em partilhar a moeda com os parceiros mais competitivos da Europa, mas não concordámos sobre as mudanças internas nas regras de jogo a que isso obrigava.
  • Na origem da crise económica que Portugal atravessa está um problema de cultura política e cívica, e que o país não terá promovido reformas nem se terá apercebido da necessidade destas.
  • As soluções para o futuro passam por discutir mais políticas públicas e menos táctica política, com a contribuição de todos, incluindo o Governo, para um debate público mais informado e com maior substância.
  • A continuação da consolidação orçamental é necessária, bem como garantir maior flexibilidade e equilíbrio entre o acesso ao emprego, estabilidade no emprego, incentivo à concorrência e a erosão das rendas.
  • Atingir equilíbrios, interno e externo, o que só será possível com a reforma do Estado, cujo objectivo é tornar permanentes os ganhos obtidos no processo de consolidação orçamental e garantir a sua sustentabilidade futura.
  • Garantir que o Estado social se pauta pela equidade entre o sector público e privado e da equidade entre gerações.
  • O nosso objectivo final é um país mais justo, próspero e livre.
Isto não são factos, são banalidades, e compõem um vazio absoluto. Se queremos factos, podemos começar por olhar para aquilo que gastaram todos os governos (incluindo este) e a quem se destinou esse dinheiro. E, quando chegou a hora de cortar, vamos ver onde cortaram todos esses governos.

A questão é que o "tudo" na expressão "tudo é contestado" é composto por inúmeras decisões que, ao longo de anos, deram origem um padrão: Criar rendimentos para boys e amigos, à custa de sacrifícios para a restante população.

Aliás, podemos olhar para um facto - não se corta a sério nas PPPs (ficamo-nos por estas migalhas recentemente anunciadas) com o argumento que o Estado assinou contratos que tem de cumprir, sob pena de de ser obrigado pelos tribunais.

Este é o mesmo Estado que arranjou forma de alterar a lei para pagar o subsídio de férias; que anunciou que vai alterar a lei referente aos serviços mínimos; que vai aplicar cortes nos salários dos professores que podem ser ilegais (e aqui fico-me pelo "podem", até confirmar). Quando se trata de cortar nos amigos, a lei é sacrossanta; quando se trata de cortar nos restantes, a lei vale o que vale e não há direitos adquiridos.

Contra factos não há argumentos.

Thursday, June 20, 2013

Os "jovens" da JSD perguntam qual o custo dos sindicatos para o Estado

Resposta:
  • Menos que o BPN.
  • Menos que as PPPs.
  • Menos que as "rendas do champagne".
  • Menos que o CCB
  • Menos que os estádios do Euro.
  • Menos que a Expo 98.
  • Menos que todos os grandes projectos cujos custos derraparam constantemente.
Just to name a few...

Os sindicatos são úteis? Não sei. Mas uma coisa é certa - na minha lista de prioridades de sangrias do Estado, estão bem lá no fundo.

Podemos chamar-lhes uma gota de água na sangria.

Wednesday, June 19, 2013

Dear EU taxpayers,

I often read about your outrage at the current state of countries like Portugal, after year upon year of European money (as in "your money") pouring in; I totally understand it. And yet, I can't keep from being perplexed by this unanswered question: Where have you been for the past 20 years?

The first visible contact many Portuguese had with the EEC, after Portugal joined, was with what we here called "Cursos da CEE", i.e., training courses subsidized by the European Social Fund (ESF). It was a good idea, and it was something Portugal sorely needed. However, it didn't take long for the first stories of mismanagement and downright fraud to surface. I was in my late teens at the time, I was definitely not that well informed, and yet I was getting these stories on a daily basis - how someone at one of those "cursos da CEE", showed up in the morning, signed the presence sheet and left for the rest of the day; or how someone else had positive grades even though he knew nothing of what was being taught.

My friends heard similar stories; at school, my schoolmates heard similar stories; talking to adults, they, too, heard similar stories. No one else in the whole of EEC heard about this? No one thought it might be a good idea to step in and say "Here, let us see exactly how is that training money being spent, and what benefits are the Portuguese reaping from it"?

In the 90s, the EU was calling us the "good student" (or the "bright pupil", or whatever nonsense someone thought would sound good at that time). In that same time frame, we were getting the first concrete stories about frauds with European money. Not just the ESF training money, but other types of subsidies (among the most notorious were the agricultural subsidies). One notable case in the news involved a worker's union that applied for training money and whose leaders went from average-income to wealth status in a few years.

So, the EU was telling us "good job!" at the same time our headlines were warning about malfeasance with EU's money. Am I the only one spotting an inconsistency, here? Once again, I ask: Where were you? It was your money, you worked hard for it. Didn't it bother you, this crescendo of worrisome signs on how that money was spent? You have embassies in Lisbon. Didn't your ambassadors watch the news? Didn't they relay signs of concern to your leaders? What were you doing?

I can assure you, if it was my money, I would want my people in charge of investigations (especially in a country with such an appalling judiciary as Portugal), and that's the point in time where I'd step in, to cut the party right at the beginning. That was the time for saying "Listen, we're the ones paying for this, we don't like all these signs we're getting, and now please move aside because we're stepping in to investigate". I, for one, would applaud, and national sovereignty be damned. It was your money, it was being misspent, and you had all the right to take control of the situation (which is what you're doing now; except that now it's too late).

My view is not particularly popular among the people with whom I discuss this. The usual argument I get concerns the "scandalous interference in internal affairs" such a "meddling" would cause, and that the EU has neither the power nor the right to do it. Of course, in what concerns "having the power", we need only look to Austria in 2000, and the EU-imposed sanctions over the electoral results of an extreme-right party, to see the EU has, in fact, the power to interfere in a member-state's internal affairs. And I agree it should have such power - if we're in this together, then the errors of the one affect the stability of the whole (which, to me settles the "having the right" bit).

Another example of this perplexing apathy came forward when the Cyprus crisis burst, this time in the person of Wolfgang Schäuble, who was quoted as saying something like: "Cyprus has been doing this for years"; "this" being "attracting foreign capital in a risky and potentially unsustainable fashion". And, once again, I ask: If the EU knew about this behaviour "for years", and if Cyprus is a member-state, what did the EU do to correct such behaviour in a timely fashion, thus preventing said risks? Why did the EU step in only after it became an emergency?

Dear taxpayers, you were, for the most part, robbed. I'd say a vast majority of the money Portugal received was spent on projects that did little to actually reform and advance the country; a good part of that money financed some of the wealthiest fortunes in Portugal. But it was done in the open. We didn't build stadiums for an Euro or highways that are almost empty... in secrecy. Our projects didn't go obscenely over-budget in discreet back-alleys, amidst scantily dressed prostitutes reclining on street lamps (thanks, Steven Moffat, your writing is brilliant); actually, given the way business is conducted, I can't vouch for the absence of prostitutes. Anyway...

Throughout the years we've had an abundance of signs and news stories that threw suspicion on how your money was being spent. You didn't care. You let a judiciary system you don't trust (I first heard this from an Austrian entrepreneur, as he explained it was the #1 reason for him not wanting to do business in Portugal) handle investigations on how your money was being spent. What were you thinking?

I really don't understand what happened. In 1987, I was hopeful, as Portugal joined a group of nations I considered better organized, more productive, more civilized (in my youth, when we talked about perfect countries, we talked about Sweden and West Germany). I seldom traveled, but when I finally had a chance to go somewhere, I went to Austria and Bavaria. Today, that admiration I had towards you is gone. I expect nothing of Europe, and these reforms you portray as imperative for EU's (and the eurozone's) recovery and stability will have no impact whatsoever, and Portugal (possibly, among others) will keep on sliding down; the most probable outcome will be for the weaker nations to slide off the euro, to keep from jeopardizing everyone else's stability.

As a Portuguese citizen, I don't deny our responsibility - we did it on our own. But I still have my unanswered question: Where have you been all these years, while your money was being wasted?

Tuesday, June 18, 2013

Aprendizes

 O relatório


Aí está ele, acabadinho de sair do forno, o relatório sobre as PPP que demonstra que a culpa é toda do passado.

O que não seria novidade, não fosse o pequeno facto de os autores deste relatório serem dotados de uma capacidade de observação um pouco... como dizê-lo...? Diferente! Isso, diferente... diferente da dos comuns mortais (nos quais me incluo). Podemos resumir o relatório da seguinte forma:
  1. Os contratos entre Estado e privados são, na sua esmagadora maioria, prejudiciais para o Estado.
  2. A responsabilidade recai sobre o governo de Sócrates.
Quanto ao ponto 1, totalmente de acordo. Não pelo princípio em si, i.e., não me choca a existência de privados a fornecer serviços em parceria com o Estado. Infelizmente, o que a realidade me apresenta, de forma continuada e consistente, são exemplos de como isto não resulta nem em aumento de qualidade de serviço, nem em poupança para o Estado. Sendo assim, dispenso essas parcerias.

Quanto ao ponto 2, alguém devia explicar a estes indivíduos que não é assim tão fácil apagar décadas de governação PSD e PS em que a regra foi o Estado sair sempre prejudicado nos negócios feitos com privados (já para não falar na quantidade de ex-membros de governo que integravam depois, por incrível coincidência, os quadros das empresas com quem o Estado fazia esses negócios).

O Estado não começou a sustentar os amigos quando Sócrates chegou ao poder; Sócrates "limitou-se" a manter a tradição que já vinha de trás. E não é justo dizer que foi Cavaco que deu início a essa tradição; Cavaco governou num período em que a CEE injectou dinheiro em barda no país (portanto havia imenso dinheiro para o Estado perder), e foi o seu governo o primeiro a dar outra escala a esta nobre arte do compadrio. Mas todos os que lá aterraram desde então (incluindo os actuais) não são melhores nem piores que Cavaco, são iguais.

Aprendizes de Sun Tzu

O livro "The Art of War" fala muito em "deception", que podemos traduzir como "dissimulação".

É o que temos neste relatório das PPPs - fala-se apenas de Sócrates & Cia., na esperança que ninguém repare nos outros. Foi o que tivemos, também, neste weekend que passou, nas fabulosas reuniões entre o ministro da Educação e os vários sindicatos/associações, que foram recebidos separadamente (isto das instalações modestas, com salas pequenas, é um problema). Em ambos os casos, o governo apresentou versões dos acontecimentos concebidas tendo esta "deception" como pano de fundo.

Nada a opor. Não é que concorde com isso, mas é um facto da vida que a "deception" faz parte da realpolitik.

Agora, há uma coisa que o camarada Crato e o autor deste relatório deviam perceber - "deception" não é apenas "distorcer" a realidade; é fazê-lo de forma a que a manobra não seja óbvia para qualquer pessoa com mais de um neurónio... ou sem palas, claro.

Não me chateia por aí além (vá lá, só me chateia um bocadinho) que estes indivíduos não tenham princípios. Agora, ser governado por quem não tem inteligência sequer para mentir é realmente mau.

Sim, eu sei, não precisam dessa inteligência. Têm sempre muita gente para os apoiar, por muita que seja a burrice que dizem/fazem. Palas...

Sunday, June 16, 2013

Quem espera...

No meu post anterior falei sobre o facto de o governo só ligar à Lei quando lhe convém. Disse isto: Geralmente, basta-me deixar o tempo correr para ver as minhas suspeitas realizarem-se.

E desta vez nem foi preciso esperar muito tempo. Esta novela da greve de professores em dia de exames trouxe-nos mais uma evidência de como, quando há vontade, se mudam as leis.

Confrontado com a decisão sobre os serviços mínimos, o nosso "querido líder" afirmou que iria mudar a lei que regula os serviços mínimos, de forma a que esta situação não voltasse a acontecer.

Ou seja, quando o nosso "querido líder" não gosta da Lei, esta muda-se.

O que só me pode levar a concluir que não se mexe a sério nas PPPs e nas "rendas do champagne" (EDP & Cia) porque o nosso "querido líder" gosta de lhes continuar a pagar.

Wednesday, June 12, 2013

O Estado e os tribunais

De vez em quando, fazia comentários num forum (não interessa qual é, não lhes vou fazer publicidade).

É um fórum que aceita comentários anónimos, mas, naturalmente, quanto mais utilizadores se registarem, melhor. Até porque o registo permite criar uma identidade e construir uma reputação num fórum online (vale o que vale, mas é um facto) .

Este fórum modera os comentários. Ou seja, eu faço o meu comentário e depois alguém, utilizando um critério que será mais ou menos arbitrário, aprova ou não esse comentário.

E é aqui que a coisa se espalha ao comprido. É suposto eu criar uma identidade nesse fórum e criar uma reputação à base daquilo que vou escrevendo; mas depois pedem-me para deixar a aprovação ou não nas mãos de terceiros, num processo que não me dá nenhuma espécie de feedback. Já me aconteceu estar numa troca de argumentos com alguém, (anónimo ou não, é indiferente), e a minha resposta não ser publicada, sem que eu perceba porquê (até pode ser uma coisa tão simples como uma falha do sistema). Olho para isto e digo "No problem, não me afecta". Não me afecta porque não criei uma persona naquele fórum, não me afecta porque quando passo por lá sou apenas mais um anónimo a "postar", portanto não me preocupo se uma troca de ideias onde não concordo nada com o argumento que me foi apresentado e onde acho que apresentei contra-argumentos válidos é cortada a meio.

Mas, uma coisa é certa - no que me diz respeito, não será assim que me registarei nesse fórum. Aliás, já nem faço comentários lá há umas semanas.

E agora a coisa atingiu um nível de ironia delicioso.

Uma das minhas últimas interacções nesse fórum foi com alguém que defendia que o governo não podia fazer mais para cortar nas PPPs porque isso significaria ir para tribunal, e o Estado estaria limitado pelas decisões de um tribunal.

Como se pode ver pelas notícias de hoje sobre as decisões do TC e os subsídios de férias, o Estado só está limitado pelas decisões de um tribunal quando lhe convém.

Se o Estado quisesse, podia cortar muito mais nas PPPs, não tenham qualquer dúvida disso. Eu próprio o disse, na minha resposta nesse fórum. Que não foi publicada.

Vamos esperar pelo final do ano, para ver se pagam. Geralmente, basta-me deixar o tempo correr para ver as minhas suspeitas realizarem-se.

Não por eu ser particularmente brilhante, mas apenas porque os anos me ajudaram a ir tirando as palas dos olhos. Ainda tenho muitas, sim, mas, pelo que vou lendo, tenho menos que a maioria dos meus concidadãos "cibernautas".