Friday, June 21, 2013

O vazio

Segundo Poiares Maduro, um dos grandes problemas em Portugal é que "tudo é contestado". E dispara esta pérola: "Contra factos há sempre argumentos".

Vejamos, então, quais os factos mencionados por Poiares Maduro:
  • Não interiorizámos as consequências das escolhas que realizámos e conseguimos concretizar: aderir ao euro e estar na primeira linha da construção europeia.
  • Concordámos em mudar de regime democrático e em partilhar a moeda com os parceiros mais competitivos da Europa, mas não concordámos sobre as mudanças internas nas regras de jogo a que isso obrigava.
  • Na origem da crise económica que Portugal atravessa está um problema de cultura política e cívica, e que o país não terá promovido reformas nem se terá apercebido da necessidade destas.
  • As soluções para o futuro passam por discutir mais políticas públicas e menos táctica política, com a contribuição de todos, incluindo o Governo, para um debate público mais informado e com maior substância.
  • A continuação da consolidação orçamental é necessária, bem como garantir maior flexibilidade e equilíbrio entre o acesso ao emprego, estabilidade no emprego, incentivo à concorrência e a erosão das rendas.
  • Atingir equilíbrios, interno e externo, o que só será possível com a reforma do Estado, cujo objectivo é tornar permanentes os ganhos obtidos no processo de consolidação orçamental e garantir a sua sustentabilidade futura.
  • Garantir que o Estado social se pauta pela equidade entre o sector público e privado e da equidade entre gerações.
  • O nosso objectivo final é um país mais justo, próspero e livre.
Isto não são factos, são banalidades, e compõem um vazio absoluto. Se queremos factos, podemos começar por olhar para aquilo que gastaram todos os governos (incluindo este) e a quem se destinou esse dinheiro. E, quando chegou a hora de cortar, vamos ver onde cortaram todos esses governos.

A questão é que o "tudo" na expressão "tudo é contestado" é composto por inúmeras decisões que, ao longo de anos, deram origem um padrão: Criar rendimentos para boys e amigos, à custa de sacrifícios para a restante população.

Aliás, podemos olhar para um facto - não se corta a sério nas PPPs (ficamo-nos por estas migalhas recentemente anunciadas) com o argumento que o Estado assinou contratos que tem de cumprir, sob pena de de ser obrigado pelos tribunais.

Este é o mesmo Estado que arranjou forma de alterar a lei para pagar o subsídio de férias; que anunciou que vai alterar a lei referente aos serviços mínimos; que vai aplicar cortes nos salários dos professores que podem ser ilegais (e aqui fico-me pelo "podem", até confirmar). Quando se trata de cortar nos amigos, a lei é sacrossanta; quando se trata de cortar nos restantes, a lei vale o que vale e não há direitos adquiridos.

Contra factos não há argumentos.

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