Tuesday, June 18, 2013

Aprendizes

 O relatório


Aí está ele, acabadinho de sair do forno, o relatório sobre as PPP que demonstra que a culpa é toda do passado.

O que não seria novidade, não fosse o pequeno facto de os autores deste relatório serem dotados de uma capacidade de observação um pouco... como dizê-lo...? Diferente! Isso, diferente... diferente da dos comuns mortais (nos quais me incluo). Podemos resumir o relatório da seguinte forma:
  1. Os contratos entre Estado e privados são, na sua esmagadora maioria, prejudiciais para o Estado.
  2. A responsabilidade recai sobre o governo de Sócrates.
Quanto ao ponto 1, totalmente de acordo. Não pelo princípio em si, i.e., não me choca a existência de privados a fornecer serviços em parceria com o Estado. Infelizmente, o que a realidade me apresenta, de forma continuada e consistente, são exemplos de como isto não resulta nem em aumento de qualidade de serviço, nem em poupança para o Estado. Sendo assim, dispenso essas parcerias.

Quanto ao ponto 2, alguém devia explicar a estes indivíduos que não é assim tão fácil apagar décadas de governação PSD e PS em que a regra foi o Estado sair sempre prejudicado nos negócios feitos com privados (já para não falar na quantidade de ex-membros de governo que integravam depois, por incrível coincidência, os quadros das empresas com quem o Estado fazia esses negócios).

O Estado não começou a sustentar os amigos quando Sócrates chegou ao poder; Sócrates "limitou-se" a manter a tradição que já vinha de trás. E não é justo dizer que foi Cavaco que deu início a essa tradição; Cavaco governou num período em que a CEE injectou dinheiro em barda no país (portanto havia imenso dinheiro para o Estado perder), e foi o seu governo o primeiro a dar outra escala a esta nobre arte do compadrio. Mas todos os que lá aterraram desde então (incluindo os actuais) não são melhores nem piores que Cavaco, são iguais.

Aprendizes de Sun Tzu

O livro "The Art of War" fala muito em "deception", que podemos traduzir como "dissimulação".

É o que temos neste relatório das PPPs - fala-se apenas de Sócrates & Cia., na esperança que ninguém repare nos outros. Foi o que tivemos, também, neste weekend que passou, nas fabulosas reuniões entre o ministro da Educação e os vários sindicatos/associações, que foram recebidos separadamente (isto das instalações modestas, com salas pequenas, é um problema). Em ambos os casos, o governo apresentou versões dos acontecimentos concebidas tendo esta "deception" como pano de fundo.

Nada a opor. Não é que concorde com isso, mas é um facto da vida que a "deception" faz parte da realpolitik.

Agora, há uma coisa que o camarada Crato e o autor deste relatório deviam perceber - "deception" não é apenas "distorcer" a realidade; é fazê-lo de forma a que a manobra não seja óbvia para qualquer pessoa com mais de um neurónio... ou sem palas, claro.

Não me chateia por aí além (vá lá, só me chateia um bocadinho) que estes indivíduos não tenham princípios. Agora, ser governado por quem não tem inteligência sequer para mentir é realmente mau.

Sim, eu sei, não precisam dessa inteligência. Têm sempre muita gente para os apoiar, por muita que seja a burrice que dizem/fazem. Palas...

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