Apesar do título, este é em português.
Duas notas, antes do tema principal.
- Por que não escrevi nada sobre a pensionista que se queixou dos carrascos (que, apenas por acaso, são os mesmos que lhe pagam a reforma)? Porque há gente que não merece mais que desprezo.
- Por falar nisso, também não vou perder tempo com estes devaneios do PR. Nenhum dos cromos envolvidos (incluindo o próprio PR) alguma vez soube o significado de "sentido de Estado", portanto não seria agora que o iriam aprender. Para esta gente, "sentido de Estado" é o sentido seguido pelo dinheiro do Estado para entrar para os seus bolsos.
Stuck in repeat, então...
O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos condenou o Estado a pagar 1.5M de indemnizações pela tristeza que foi a Reforma Agrária. Tendo em conta que já pagou 240M, não me parece que esta gota de água faça grande diferença, mesmo nos tempos que correm. Se o 1.5M não fosse para isto, iria para pagar as contas das caixas de lenços dos novos donos do BPN, ou como prémio para mais uma gestora iluminada de um qualquer banco cujas burrices estão a ser pagas pelo Estado, como é normal.
O que é realmente esclarecedor aqui é o seguinte:
1. Repito, a Reforma Agrária foi uma tristeza. A nível pessoal, conheço uns poucos casos, um dos quais muito próximo, que revelam a total incompetência de quem trabalhava a terra para gerir uma exploração agrícola. Sim, trabalhar a terra é uma coisa, geri-la é outra.
2. Dito isto, entre quem trabalhava a terra, havia demasiada gente a viver em condições miseráveis, explorados por muitos dos donos dessas mesmas terras. A miséria de uns financiava a boa vida de outros.
O motivo pelo qual a "solução" aplicada (a Reforma Agrária) foi uma péssima ideia é exactamente o mesmo motivo pelo qual hoje em dia um "governo" (utilizando o sentido mais lato possível para esta palavra) de posição ideológica diametralmente oposta (redundância? Who cares?) aplica um conjunto de "soluções" de igual calibre de burrice - é mais fácil cortar a direito do que fazer um trabalho bem feito.
Olhando para os 2 pontos acima, qualquer pessoa com um total de neurónios superior a zero se apercebe que o problema a resolver reside nas condições miseráveis em que vivia quem trabalhava a terra. Como é que isso se resolve? Simples. Começamos por procurar as excepções a esta regra (sim, existiam), aprendemos como funcionam e, com base nessa aprendizagem, impomos esse funcionamento em todas as restantes explorações agrícolas.
Mas isto tem um problema - exige trabalho, e trabalhar é aborrecido, não é? É mais fácil simplesmente expropriar as terras aos donos, quer o merecessem, quer não, certo?
Sim, haveria muita gente que não fazia mais que explorar a mão de obra miserável que tinha à sua disposição. Mas, mesmos a estes, eu não lhes tiraria as terras. Definia um conjunto de regras para criar uma sociedade mais equilibrada, impunha-lhes essas regras, e depois segui-los-ia com muito mais atenção que aos outros, para ter a certeza que as novas regras não lhes "passavam ao lado".
Eu sou o primeiro a concordar com um dos objectivo por detrás da Reforma Agrária - tirar uma enormidade de pessoas da miséria, dar-lhes educação, transformá-los em cidadãos. Mas a Reforma Agrária nunca foi a solução para isso. Foi, antes de mais uma punição para uma determinada camada da sociedade (os donos das terras), onde punimos todos devido à canalhice de alguns (ou talvez até de muitos). Mas não só não nos demos ao trabalho de separar o trigo do joio nesta camada da sociedade, também não o fizemos nas pessoas (cooperativas) a quem entregámos as terras.
A Reforma Agrária fracassou, como tinha que fracassar, porque o trabalho foi mal feito. Porque se assumiu que de um lado (donos das terras) era tudo canalhas e do outro lado (trabalhadores) era tudo gente boa e explorada. Mais uma vez, parece-me óbvio que alguém com um cérebro funcional veria que havia canalhas e gente boa de ambos os lados, e o objectivo deveria ter sido aproveitar a gente boa e manter os canalhas controlados.
Aceito que me digam que no ambiente da altura, em pleno 75 revolucionário, seria difícil implementar uma solução séria. O que já não percebo foi como, ao longo dos anos que se seguiram, nada se fez para corrigir o erro. Lá está, não somos assim tão diferentes do contribuinte alemão, não é?
Quanto às burrices que se cometem hoje em dia, o motivo, tal como disse, é o mesmo - uma solução a sério exige trabalho, e trabalhar é aborrecido.
O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos condenou o Estado a pagar 1.5M de indemnizações pela tristeza que foi a Reforma Agrária. Tendo em conta que já pagou 240M, não me parece que esta gota de água faça grande diferença, mesmo nos tempos que correm. Se o 1.5M não fosse para isto, iria para pagar as contas das caixas de lenços dos novos donos do BPN, ou como prémio para mais uma gestora iluminada de um qualquer banco cujas burrices estão a ser pagas pelo Estado, como é normal.
O que é realmente esclarecedor aqui é o seguinte:
1. Repito, a Reforma Agrária foi uma tristeza. A nível pessoal, conheço uns poucos casos, um dos quais muito próximo, que revelam a total incompetência de quem trabalhava a terra para gerir uma exploração agrícola. Sim, trabalhar a terra é uma coisa, geri-la é outra.
2. Dito isto, entre quem trabalhava a terra, havia demasiada gente a viver em condições miseráveis, explorados por muitos dos donos dessas mesmas terras. A miséria de uns financiava a boa vida de outros.
O motivo pelo qual a "solução" aplicada (a Reforma Agrária) foi uma péssima ideia é exactamente o mesmo motivo pelo qual hoje em dia um "governo" (utilizando o sentido mais lato possível para esta palavra) de posição ideológica diametralmente oposta (redundância? Who cares?) aplica um conjunto de "soluções" de igual calibre de burrice - é mais fácil cortar a direito do que fazer um trabalho bem feito.
Olhando para os 2 pontos acima, qualquer pessoa com um total de neurónios superior a zero se apercebe que o problema a resolver reside nas condições miseráveis em que vivia quem trabalhava a terra. Como é que isso se resolve? Simples. Começamos por procurar as excepções a esta regra (sim, existiam), aprendemos como funcionam e, com base nessa aprendizagem, impomos esse funcionamento em todas as restantes explorações agrícolas.
Mas isto tem um problema - exige trabalho, e trabalhar é aborrecido, não é? É mais fácil simplesmente expropriar as terras aos donos, quer o merecessem, quer não, certo?
Sim, haveria muita gente que não fazia mais que explorar a mão de obra miserável que tinha à sua disposição. Mas, mesmos a estes, eu não lhes tiraria as terras. Definia um conjunto de regras para criar uma sociedade mais equilibrada, impunha-lhes essas regras, e depois segui-los-ia com muito mais atenção que aos outros, para ter a certeza que as novas regras não lhes "passavam ao lado".
Eu sou o primeiro a concordar com um dos objectivo por detrás da Reforma Agrária - tirar uma enormidade de pessoas da miséria, dar-lhes educação, transformá-los em cidadãos. Mas a Reforma Agrária nunca foi a solução para isso. Foi, antes de mais uma punição para uma determinada camada da sociedade (os donos das terras), onde punimos todos devido à canalhice de alguns (ou talvez até de muitos). Mas não só não nos demos ao trabalho de separar o trigo do joio nesta camada da sociedade, também não o fizemos nas pessoas (cooperativas) a quem entregámos as terras.
A Reforma Agrária fracassou, como tinha que fracassar, porque o trabalho foi mal feito. Porque se assumiu que de um lado (donos das terras) era tudo canalhas e do outro lado (trabalhadores) era tudo gente boa e explorada. Mais uma vez, parece-me óbvio que alguém com um cérebro funcional veria que havia canalhas e gente boa de ambos os lados, e o objectivo deveria ter sido aproveitar a gente boa e manter os canalhas controlados.
Aceito que me digam que no ambiente da altura, em pleno 75 revolucionário, seria difícil implementar uma solução séria. O que já não percebo foi como, ao longo dos anos que se seguiram, nada se fez para corrigir o erro. Lá está, não somos assim tão diferentes do contribuinte alemão, não é?
Quanto às burrices que se cometem hoje em dia, o motivo, tal como disse, é o mesmo - uma solução a sério exige trabalho, e trabalhar é aborrecido.
Existem outros motivos, outros interesses? Sim, claro, mas também naquela altura existiam. Tal como disse, canalhas, há-os em toda a parte.
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