Saturday, August 31, 2013

Uma questão de fé

O nosso querido líder não acredita que o país aguente mais impostos.

Parece uma crise de fé, mas isso resolve-se bem. Meia-dúzia de "Avé Ulrich", e fica o Pedrito renovado.

Lá no meio, ouvia-se a habitual tirada do "Não podem ser sempre os mesmos a pagar". Bem lembrado, Pedrito. Os amigos das PPPs e das rendas do champagne já disseram alguma coisa?

Friday, August 30, 2013

Ciclistas em Portugal

O presidente do ACP, Carlos Barbosa, sugeriu que as bicicletas deveriam ter seguro obrigatório, tal como os carros... e as motas... e, se pensarmos bem, a esmagadora maioria dos veículos que circulam na estrada.

Os camaradas ciclistas não gostaram da ideia, o que não espanta ninguém. Toda a gente gosta de direitos, mas ninguém gosta de deveres.

Irónica foi a declaração da Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta (MUBi), que se mostrou disponível para um debate sério e sem demagogia para criar um convívio mais agradável e seguro na estrada.

Plenamente de acordo, caríssima MUBi. No entanto, sugiro um preâmbulo para esse debate - ensinem aos ciclistas (de uma maneira geral, não apenas aos vossos associados) que um sinal vermelho no semáforo significa "Parar".

Sim, caros ciclistas, é verdade, parar. Mesmo que seja totalmente seguro passar; mesmo que consigam passar à tangente ou obriguem a parar quem tem sinal verde (é raro, sim; ainda só o vi duas vezes). Sinal vermelho obriga a parar. Ou porque acham que param os condutores dos outros veículos (carros, motas, etc)?

Alguns não param? Sim, é verdade, longe de mim defender o civismo dos automobilistas portugueses. No entanto, a minha experiência, por muito insignificante que possa ser, demonstra-me o seguinte:
  • A maioria dos automobilistas pára no sinal vermelho.
  • A maioria dos ciclistas não pára no sinal vermelho.
Portanto, estão a ver o problema, certo? Adiante.

Uma vez interiorizado este extraordinário conceito, podemos passar para outro, que vos deverá parecer igualmente estranho, chamado prioridade.

Quando eu deixar de ver a maior parte dos ciclistas com que me cruzo a desrespeitar rotineiramente as regras de condução, talvez acredite no tal convívio agradável e seguro. De preferência, com seguro.

Thursday, August 29, 2013

The Amazing IMF

Whenever I hear "The Amazing Whatever", it brings to memory those "amazing" people of yore, going from town to town and village to village, in the eternal struggle to ensure none would go without snake oil. Their motto would probably be something like "All men are created equal, so let none be kept from buying our wondrous products". Or, for short, "There's one born every minute".

Ergo, "The Amazing IMF".

The Amazing IMF continues its notable screw-up streak. This time, we discovered that The Amazing IMF has performed some "selective filtering" on the data it used to justify the need for a greater wage flexibility in Portugal.

The IMF's data shows that the number of employees (as in "non-self-employed workers") with cut wages in 2012 was around 7%. Apparently, the reality disagrees, and without the IMF's "selective filter", that figure would be 20%.

The Portuguese government (remember how the Amazing Whatever always had one or two accomplices in the crowd? Check!) stated that the data is indeed partial, and that it was exactly what the IMF asked; the "accomplice" actually praised the IMF's method (which we can assume is not scientific) and its results (which I'd guess are not accurate viz-a-viz the reality).

We can add, regarding the method, that although it's not scientific, it must be economic, since it fits the pattern used by that Amazing Duo, Reinhart-Rogoff.
 
This would be amusing, if it wasn't for two facts:
- These nonsensical, brain dead schemes have an actual impact on peoples' lives.
- The novelty has wore off.

What do I mean, "the novelty has wore off"' Well, the first few times the IMF screwed up, I felt a bit elated, seeing those credible, competent, high-and-mighty people get it wrong. These days? These days, I'm aware the only people who defend the IMF as "credible" and "competent" are those who have something to gain from doing so. The IMF itself has shown the world, again and again, it is neither.

So, seeing the IMF fumble is like hearing the same joke on a loop. It gets old. Pretty fast, in this particular case.

Sunday, August 25, 2013

Urgências em Lisboa

Vi há dois dias, na SIC Notícias, um pequeno debate sobre o novo plano de urgências para Lisboa.

Um dos argumentos mais repetidos pelo indivíduo que defendia este plano era que é idêntico ao que está a funcionar no Porto, desde há quatro anos.

Nesse debate, não vi ninguém a levantar uma questão elementar: Que catástrofes ocorreram no Porto durante esses 4 anos? Por que prova(s) de fogo passou este sistema? É suposto ficarmos mais descansados quando o "CV" deste sistema se resume a "Nunca foi verdadeiramente posto à prova"?

Há 25 anos, o Chiado ardeu. Um dos factores decisivos para a ineficácia dos bombeiros foram os canteiros colocados na Rua do Carmo. Lembro-me que esses canteiros deram muito que falar, e lembro-me de ter ouvido falar do impacto que os canteiros teriam sobre a movimentação de viaturas de emergência que precisassem de entrar na rua.

Os "gestores" de então minimizaram as críticas, recorrendo ao habitual esquema de se esconderem por detrás de um optimismo totalmente descerebrado e impermeável a qualquer raciocínio lógico. O esquema não mudou; continua vivo e de boa saúde, e podemos encontrá-lo hoje na boca de todos os que defendem este brilhante exemplar de burrice que vai ser implementado nas urgências em Lisboa.

Não percebo porque se ficaram por dois hospitais. Se tivessem acrescentado mais um, poderiam ter chamado a isto a "Vermelhinha das Urgências".

Saturday, August 10, 2013

A eficiência dos privados

Ao que parece, um helicóptero de combate a incêndios ficou parado durante duas horas, quando deveria estar a auxiliar os bombeiros no terreno. Porquê?

Porque a empresa dona do helicóptero era a Helibravo, e outra empresa, a Everjet, recusou abastecer o helicóptero da concorrente.

Isto, caríssimos, é o que se obtém quando se colocam privados a gerir serviços essenciais.

Friday, August 9, 2013

A novela dos swaps continua

Há algumas notas relevantes neste novo episódio da novela dos swaps.
  • As propostas tinham como objectivo a cosmética das contas públicas. Não deixa de ser curioso que tenham sido classificadas como operações com "relevância" e "que se inserem nas estratégias normais de redução do risco e melhoria da performance da gestão da dívida pública, sendo executadas com regularidade pelo IGCP".
  • Já viram a quantidade de gente que é necessária apenas para reencaminhar um documento? Reencaminhar sem acrescentar qualquer valor e, no caso dos comentários do ponto acima, reencaminhar retirando valor, ao emitir pareceres incorrectos sobre o conteúdo do documento. Sempre defendi que a gordura do Estado está mais acima, e agora foi possível comprová-lo.
  • Os camaradas do PSD têm toda a razão quando dizem que não se percebe como é que ninguém do governo de Sócrates denunciou isto. No entanto, a julgar pela nota de rodapé do doc. do IGCP referente a estas propostas, parece que os camaradas do PSD deveriam dirigir essa questão também para o seu próprio partido:
As propostas apresentadas pelo Citigroup à República, em 1 de Julho de 2005, correspondem, quase integralmente (...), às que tinham sido apresentadas a 13 de Agosto e a 27 de Setembro de 2004 e que tinham tido parecer negativo por parte da AGD
  • A SIC já veio esclarecer que recebeu o documento da residência do anterior primeiro-ministro. Por um lado, adoro estas coisas - recebeu da "residência"... deve ter sido a governanta; ou, se formos mais tradicionais, o mordomo. O que a SIC ainda não esclareceu foi quando recebeu o documento.
No fundo, se espremermos bem isto tudo, não há grandes novidades, apenas confirmações. Confirmamos:
  • O calibre moral de quem nos governa, os nossos "best of the best"
  • O calibre moral da nossa banca. E afins, que os nossos amiguinhos da banca não são especiais, são iguais a todos os outros que tenham dimensão suficiente para ter amiguinhos no Estado.
  • O valor acrescentado de toda a gente que aparece muito ufana, de fato catita e de braços cruzados na capa das revistas (e jornais) cor-de-rosa dos gestores e economistas. Aliás, dada a sua contribuição para a posição notável que Portugal ocupa actualmente, há que lamentar que não tivessem passado mais tempo de braços cruzados.
A verdade é que já sabíamos tudo isto. Estas histórias que sobem à superfície quando as comadres se zangam servem, acima de tudo, para calar o pessoal que grita "Teoria da conspiração" por tudo e por nada.

Deixo uma nota final - já repararam que quem fica bem neste filme é o Franquelim do BPN? Não acham que isso, só por si, diz tudo?

Thursday, August 8, 2013

Xeque-ensino...?

E o camarada Pais Jorge lá foi à sua vida, a queixar-se da podridão em que se tem movimentado desde há anos. Seria de esperar que o aroma já não o incomodasse.

Entretanto, vi a história do cheque-ensino. Mais uma ideia fabulosa dos nossos queridos líderes, de forma a garantir que o contribuinte faça por algumas empresas privadas aquilo que os seus gestores não têm competência para fazer - gerar lucro.

Bem, agora é só aguardar os 2-3 anos da praxe, pelo relatório do Tribunal de Contas, e pelas opiniões de como isto "até era uma boa ideia, mas não correu como esperado, coisa que ninguém conseguiria prever".

Sunday, August 4, 2013

Ironias

1. Correia de Campos, ministro da Saúde dos tempos de Sócrates e das suas fabulosas PPPs, a criticar as PPPs na área da Saúde.

2. Mira Amaral, que esteve na venda do BPN ao BIC (ao mesmo tempo que dizia que o país lhe devia estar grato), a criticar o dinheiro que o Estado dá de mão-beijada às empresas (neste caso, à EDP).

Às vezes, a falta de vergonha na cara quase chega a ser admirável.

Saturday, August 3, 2013

Lagarde and Spain

Dear Christine Lagarde,

You've mentioned recently how the IMF receives unfair criticism, regarding its policies.

And now, you've presented Spain with a few suggestions for fighting unemployment - weakening labor laws and cutting salaries. This set of beliefs has been experimented in Greece and Portugal, and the result is plain to see.

As I've already explained, entities like the IMF are little more than fundamentalist organizations, spouting dogma; such is the way of pseudo-sciences, like Economy.

Like a horse with blinders (yes, I know an analogy with another, longer-eared, equine would be more apt), you refuse to step away from the path you know, even though past experiments have shown it leads nowhere.

And that is the truly fascinating aspect, in this travesty of tragicomedy where you stand as a protagonist - organizations like yours don't evolve. You have the luxury of testing your theories "on the field" (another trait that sets Economy apart from a real science), and yet you appear unable to learn from the results, as the dogma remains the same.

By this, you even manage the absurdity of comparing unfavourably with other fundamentalist organizations; because these other organizations, at least, learn and adapt.

I realize, of course, you don't need to learn and adapt. When one can show consistent lack of results, and still be payed for it, one needs not worry with learning of any kind.

You already know everything you need to know.

Friday, August 2, 2013

Histórias do País das Maravilhas

1. O governo publicou uma portaria que obriga a Vimeca a aceitar os passes intermodais.

Este é o governo que não corta a sério nas PPPs porque, supostamente, a legislação não lhe permite fazer mais. O mesmo governo que, quando o contrariam, procura forma de alterar a legislação.

Fazendo a comparação entre a Vimeca e as PPPs, talvez esteja na altura de a Vimeca fazer umas contribuições para os partidos, ou começar a contratar gente "notável" com cartão partidário para posições "não executivas" na empresa.

2. Em 2005, Joaquim Pais Jorge, colaborador do Citigroup, tentou vender ao governo de Sócrates swaps para disfarçar o rácio dívida pública/PIB.

Hoje em dia, esse exemplo perfeito de empreendedorismo é secretário de Estado do Tesouro.

Muita gente diz que isto é um escândalo; eu creio que o termo técnico é "normal". Vejamos...
  • Indivíduo que trabalha no sector privado, propõe negócio de cosmética financeira ao Estado e depois passa para institutos públicos para "negociar" PPPs? Check!
Nota: Admiremos a coerência. A proposta dos swaps seria prejudicial para o Estado; e as PPPs são aquilo que sabemos.
  • Devido à sua performance, é recompensado com um lugar no governo? Check!
  • Os swaps não são contabilizados para o cálculo da dívida pública, toda a gente sabe disso e ninguém quer saber (incluindo esses bastiões da inutilidade que são as agências de rating)? Check!
Não vejo onde está o escândalo. É apenas mais uma história de gente que revela um grau de competência e idoneidade compatíveis com lugares de liderança/gestão no sector público, onde, naturalmente, vão manter os laços que os ligam aos amigos que permanecem nas instituições privadas, e é neste emaranhado de fios entrelaçados que assenta o modus operandi que trouxe o país à posição de relevo em que se encontra actualmente.

Tal como disse, tudo normal. Nada de novo. Não sei porquê, lembrei-me agora de uma música dos 80s - "Jobs, jobs, jobs"... ou será que era "Boys, boys, boys"?

3. O Tribunal da Relação do Porto decidiu que o álcool é benéfico à produtividade.

Mais concretamente, decidiu que um trabalhador despedido por estar com uma piela colossal (perdoem-me o termo técnico) tem que ser readmitido porque "com álcool, o trabalhador pode esquecer as agruras da vida e empenhar-se muito mais a lançar frigoríficos sobre camiões, e por isso, na alegria da imensa diversidade da vida, o público servido até pode achar que aquele trabalhador alegre é muito produtivo e um excelente e rápido removedor de electrodomésticos".

Creio que a grande virtude deste acórdão foi esclarecer a atitude dos nossos magistrados relativamente ao trabalho sob o efeito de álcool e, nesse sentido, lançar uma nova luz sobre muitas decisões judiciais que eram, até agora, incompreensíveis. In Vino... Qualquer-Coisa-Que-Não-Veritas, suponho.

Mas, agora, ficou-me a dúvida... dado o assombroso nível de produtividade da magistratura portuguesa, será que eles andam o tempo todo sóbrios?

4. Miguel Relvas vai promover a língua portuguesa.

Haveria muitas piadas a fazer com o assunto, mas fica para outro dia.

Deixo apenas uma nota curiosa - a instituição que vai acolher Relvas não será financiada por dinheiros públicos, mas sim por empresas privadas. Basta pensarmos no nível de segregação entre sector público e privado em Portugal, para percebermos que, de uma forma ou de outra, quem vai pagar isto é o contribuinte, como sempre.