Sunday, April 7, 2013

Seguindo o exemplo de Pedrito e Gaspar...

Caros credores,

A necessidade de ter de vos pagar é algo que me condiciona para além do razoável.

É verdade que as leis em vigor me obrigam a esses pagamentos, mas não concordo com a interpretação que os tribunais fazem - recorrentemente, diga-se - dessas leis. Aliás, creio que será óbvio para todos nós que os problemas financeiros em que me encontro são da exclusiva responsabilidade destes mesmos tribunais, que mais não têm feito ao longo deste calvário senão fazer-me cumprir a lei, de uma forma que considero verdadeiramente ignóbil.

Assim sendo, creio que a solução passará pela suspensão dessas leis, de forma a remover a referida obrigatoriedade de pagamento. Será, obviamente, uma medida temporária, em vigor apenas o tempo necessário para eu reorganizar as minhas finanças, objectivo que prevejo, numa alteração à minha previsão anterior, que será atingido no início do próximo ano.

De forma a maximizar a eficácia desta medida, suspenderei, desde já, os pagamentos dos valores que vos devo. Certamente, os tribunais não deixarão de ter em conta a situação extraordinária em que me encontro, e fecharão os olhos a eventuais violações de lei que pudessem, de outra forma, ocorrer.

Faço-o com a confiança absoluta de que, da vossa parte, não só compreenderão a minha decisão, como também a encorajarão, por espelhar o exemplo que recebemos dos nossos governantes, os nossos "best of the best".

Sem mais de momento, etc, etc...

Tuesday, March 26, 2013

Infeliz, supreendido e desapontado

Epa, há coisas lixadas...

Abebe Selassie... bem, parem de rir do nome do homem, está bem...? Que infantil... Como eu ia dizendo, Abebe Selassie disse que o resultado do desemprego é muito infeliz. Eu diria que há quase 1M de portugueses (mais uns quantos não contabilizados) que, se lhes perguntassem, escolheriam outro(s) adjectivo(s), mas fiquemo-nos por "infeliz". O homem é claramente ignorante sobre o assunto, mas eu também sou, felizmente.

Também disse que que o aumento do desemprego foi muito pior que o esperado. Impõe-se a pergunta de sempre: Esperado por quem? E lá temos a desculpa esfarrapada de sempre, o bom e velho "ninguém seria capaz de prever". Neste caso, o único motivo pelo qual ele não foi capaz de o prever foi por ter a cabeça tão enfiada no próprio umbigo que não conseguiu ouvir toda a gente que o previu, vezes sem conta.

Mas, para além de surpreendido (e, eventualmente, infeliz, sei lá), também está desapontado por os preços da electricidade e das telecomunicações não terem descido. É curioso, isto das telecomunicações. Aparentemente o moço não deve ver TV quando cá está. Nem ouvir rádio. Nem tão-pouco abrir os olhos (se, ao menos, se pudesse dizer o mesmo da boca). Porque se fizesse alguma destas coisas, dificilmente poderia não ver a guerra de preços que existe nas telecomunicações. Se há algo que todos sabemos é que basta um telefonema ao nosso fornecedor a dizer que a concorrência faz o preço X para nos darem logo mais qualquer coisa (e, às vezes, até baixarem para o preço X).

Tudo o que este indivíduo disse acima já era suficiente para ficar com a certeza que não é neste mundo que ele vive. Mas ainda falta a cherry on top. Para quem não souber, o preço da electricidade e das telecomunicações tem que cair porque... é uma questão importante para garantir a divisão equitativa dos sacrifícios.

Yep. Os problemas de equidade não surgem devido ao facto de todas as medidas aplicadas até agora inciderem unicamente sobre o rendimento do trabalho; nem por não se ter mexido nas PPPs, nem nas outras "rendas" que o Estado paga a empresas por esse país fora; nem mesmo pela forma como se continuam a pagar despesas, ajudas de custo e belos salários aos "best of the best" por esse Estado fora (enquanto temos por aí uns aprendizes de Joseph Grimaldi a disparar pérolas sobre as mordomias dos trabalhadores da Carris e do Metro, esses milionários secretos). Nada disso! A equidade estará no bom caminho quando pagarmos menos umas décimas de cêntimo por minuto no telemóvel. Ou talvez quando baixar a mensalidade da SporTV.

E é suposto que tipos como este elaborem um plano para deixar Portugal melhor que o que estava? Yeah, right! Isto remete para a única coisa de jeito que o Pedrito disse desde que foi eleito: "Emigrem". Não é por mais nada, é só porque quem manda nisto não tem qualquer competência (quanto mais, talento) para resolver o que quer que seja.

Friday, March 22, 2013

Responsabilidades

Acho fantástico o conceito de "responsabilidade" que anda por aí.

As elites cipriotas cometeram burrices umas atrás das outras, para atrair despósitos estrangeiros. São responsáveis por isso? Sem dúvida. Até porque já tínhamos visto algo idêntico recentemente, na Islândia.

Mas, que eu saiba, o Chipre não existe num vácuo. Aliás, ao contrário da Islândia, o Chipre é um membro da UE. E, tal como disse um elemento destacado de um dos "motores" da UE, já andava nisto há anos.

Qualquer pessoa com um dedo de testa via onde isto ia parar. Mais um dedo seria suficiente para essa mesma qualquer pessoa se aperceber que, sendo o Chipre um membro da UE, esta teria que intervir, por dois motivos: 1) para estabilizar o Chipre; e 2) muito mais importante, para se estabilizar a si própria. Isto era inevitável, qualquer um que conhecesse esta situação sabia qual era o único desfecho possível, e já nem sequer tinha a desculpa esfarrapada que se utilizou no pós-2007/2008, de que "ninguém conseguiria prever".

Um aparte: A utilização de uma desculpa destas só deveria servir para demonstrar a profunda incompetência de quem a utiliza. É claro que não é isso que acontece porque, como todos sabemos, esta desculpa é falsa, e este é um daqueles casos em que podemos certamente atribuir à desonestidade (a que alguns chamam "ganância") aquilo que poderíamos atribuir à incompetência.

Anyway... qualquer pessoa com x dedos de testa (para valores de x entre 1 e 2) via onde isto ia parar.

Portanto, e voltando à minha frase de abertura, acho fantástico que agora a responsabilidade seja exclusivamente do Chipre e dos cipriotas porque, como li nas frases de alguns iluminados, "o Chipre é um país soberano".

Cabe na cabeça de alguém que a UE não tenha formas de pressionar os seus países membros? Quem acredita nisso, leia isto, nomeadamente esta parte:
In the 1999 legislative election, the FPÖ won its best-ever result in a national election with 26.9% of the vote and defeated the Austrian People's Party (ÖVP) by a small margin. This led the ÖVP to agree to form a coalition government with the FPÖ. The coalition was initially subject to sanctions from the European Union, which claimed that the coalition was "legitimis[ing] the extreme right in Europe."

Sim, é verdade. A UE tem como demonstrar a um estado membro que algo tem que mudar. Aliás, o Chipre recebeu um ultimato esta semana.

Então, não teria feito muito mais sentido dar este ultimato no início desse período descrito pelo brilhante Schäuble como "durante anos"? Não teria sido muito mais sensato dizer-lhes nessa altura que ou mudam essa brincadeira ou saiem do Euro, porque nós não queremos apanhar por tabela com o vosso risco?

Quem faz a asneira tem responsabilidade, e isso não está sequer em causa. Agora, quem presencia a asneria e, tendo ferramentas para a evitar, nada faz, partilha dessa responsabilidade.

Tudo o resto são teorias. E nem sequer são da conspiração.

Tuesday, March 19, 2013

Bitte, Herr Schäuble...

Decidi emergir...

Sempre achei piada às teorias da conspiração. E sempre achei piada a quem utiliza este termo como um argumento final num debate. Nada como disparar um assertivo "Lá vem mais um com teorias da conspiração" para resolver uma divergência de opiniões. Certamente, toda a gente que hoje se ri das teorias sobre o cancro de Chavez (e não nego o potencial cómico do camarada Maduro) também se devia rir à gargalhada se, há uns meses atrás, lhes dissessem que as vacas relinchavam e os hamburgeres tinham ferraduras. Mas no pasa nada. Teorias da conspiração.

Há uns tempos (mais precisamente em Novembro de 2010), disse isto: "O projecto europeu caminha para o fim. Não será preciso muito tempo para vermos uma Europa dividida, numa aproximação ao mapa político do início do Século XX".

Já na altura, havia outras vozes que o diziam, mas eram irremediavelmente relegadas para o plano da "teoria da conspiração".

Agora, de repente, ergue-se um coro (que nem sequer é das velhas) a alertar para o perigo da medida tomada no Chipre. Vejamos...

A desintegração da Europa. Já começou, pelo menos há 2 anos, e não é com estes líderes europeus sem qualquer qualidade (o que, pelo menos, os coloca ao mesmo nível de qualquer outro produto chinês) que isto se vai inverter. No início do Séc. XX, qualquer aldeola com uma receita diferente para queijos/enchidos invocava a sua "herança cultural única" e criava um movimento independentista, e é para isso que caminhamos novamente. Cada um por si. 

O minar da confiança na banca. Confiança na banca...? Eh eh eh... Sure, asshole, sure...

Agora, vem o uber-alles ministro alemão das Finanças criticar o modelo económico cipriota. Plenamente de acordo. Aliás, chamar-lhe "modelo económico" é demasiado generoso, aquilo é especulação no seu melhor. Mas pergunto - foi feito às escondidas? Andavam cipriotas por esse mundo fora, de saquito de plástico na mão, a vender "Rabanes" e contas bancárias? Caro Wolfgang Schäuble, caíste cá ontem de paraquedas ou andaste a dormir no serviço nestes últimos anos? É que acho piada que venhas falar de "irresponsabilidade", quando tu e todos os teus coleguinhas europeus que estão em cargos de responsabilidade permitiram que tudo isso acontecesse no Chipre.

Aliás, meu caro, és tu quem o diz: "durante anos atraiu capital estrangeiro". Anos... Ora, conta lá à malta, e o que é a gloriosa "União" Europeia fez quanto a isso, "durante anos"?

Saturday, November 12, 2011

Tão a ver? Sei lá...

Já tinha um bocado a ideia que isto era o governo dos tios e das tias, tão a ver?

Aquela ideia que os alunos de topo podiam doar o prémio de mérito a um aluno carenciado deixava claro que, para esta gente, um aluno de topo não pode, certamente, ser um aluno carenciado. Qu'órror!

Depois, a ideia de acabar com carreiras de transporte essenciais a horas verdadeiramente descerebradas. Não há aí grande surpresa. O tios e as tias e os seus amiguinhos não andam de transportes, e no mundo em que vivem, tão a ver, qualquer pessoa que tenha que se deslocar a essa hora tem carro, sei lá, não acham?

E agora... isto.

É que isto de a educação ser para todos também me parece um grande disparate. Então, mas os pobrezinhos estariam melhor se as criancinhas trabalhassem, não é? Assim, ganhavam um dinheirinho, tão a ver, e deixavam de ser pobres, sei lá.

Enfim, isto parece-me uma medida verdadeiramente estúpida e incompetente, mas certamente devo ser eu que vivo num mundo diferente.

Já agora, só para terminar, acho piada o Vitinho andar todo indignado com o comportamento dos PCPs e BEs desta vida, e não comentar, p.ex., isto. Que, aparentemente, na situação em que o país se encontra, é "perfeitamente normal".

Thursday, September 8, 2011

Mais economias (they just keep coming)

E aqui temos mais um corte na despesa.

Que, tal como disse ontem, tem como consequência efectiva o aumento da despesa das famílias.

É bom ver que é para isto que elegemos "os melhores dos melhores". Sim, porque se atribuíssemos as rédeas deste processo a um qualquer arrumador de carros, certamente que ele não seria capaz de se lembrar de medidas tão arrojadas, inovadoras e originais como as que têm desfilado pelos media.

Wednesday, September 7, 2011

Economias

Ontem, até comecei a ver o Vitinho. Mas, como acontece frequentemente quando ele fala, rapidamente senti os neurónios a adormecer.

Do que vi, deu para perceber que, segundo ele, os outros não percebem as questões, pois passam a vida a misturá-las. Bem, pelo que me foi dado a observar, ele também não as deve perceber, pois não responde ao que lhe perguntam.

Uma coisa posso afirmar - o que vimos até agora resume-se a isto:
  • Aumento de receita, à custa de impostos que atingem, na sua maioria, a classe média.
  • Corte de despesa na saúde, educação e Seg. Social. Como estes são sectores essenciais para a maioria da população (e não algo em que possamos dizer "OK, vou passar a utilizar menos"), este "corte" na despesa é, na realidade, um aumento na despesa das famílias. Aliás, a sua real consequência é exactamente a mesma que, p.ex., o aumento na taxa da electricidade, apesar de o mecanismo ser diferente.
Portanto, pessoal, toca a consumir... ou talvez não.