Friday, March 22, 2013

Responsabilidades

Acho fantástico o conceito de "responsabilidade" que anda por aí.

As elites cipriotas cometeram burrices umas atrás das outras, para atrair despósitos estrangeiros. São responsáveis por isso? Sem dúvida. Até porque já tínhamos visto algo idêntico recentemente, na Islândia.

Mas, que eu saiba, o Chipre não existe num vácuo. Aliás, ao contrário da Islândia, o Chipre é um membro da UE. E, tal como disse um elemento destacado de um dos "motores" da UE, já andava nisto há anos.

Qualquer pessoa com um dedo de testa via onde isto ia parar. Mais um dedo seria suficiente para essa mesma qualquer pessoa se aperceber que, sendo o Chipre um membro da UE, esta teria que intervir, por dois motivos: 1) para estabilizar o Chipre; e 2) muito mais importante, para se estabilizar a si própria. Isto era inevitável, qualquer um que conhecesse esta situação sabia qual era o único desfecho possível, e já nem sequer tinha a desculpa esfarrapada que se utilizou no pós-2007/2008, de que "ninguém conseguiria prever".

Um aparte: A utilização de uma desculpa destas só deveria servir para demonstrar a profunda incompetência de quem a utiliza. É claro que não é isso que acontece porque, como todos sabemos, esta desculpa é falsa, e este é um daqueles casos em que podemos certamente atribuir à desonestidade (a que alguns chamam "ganância") aquilo que poderíamos atribuir à incompetência.

Anyway... qualquer pessoa com x dedos de testa (para valores de x entre 1 e 2) via onde isto ia parar.

Portanto, e voltando à minha frase de abertura, acho fantástico que agora a responsabilidade seja exclusivamente do Chipre e dos cipriotas porque, como li nas frases de alguns iluminados, "o Chipre é um país soberano".

Cabe na cabeça de alguém que a UE não tenha formas de pressionar os seus países membros? Quem acredita nisso, leia isto, nomeadamente esta parte:
In the 1999 legislative election, the FPÖ won its best-ever result in a national election with 26.9% of the vote and defeated the Austrian People's Party (ÖVP) by a small margin. This led the ÖVP to agree to form a coalition government with the FPÖ. The coalition was initially subject to sanctions from the European Union, which claimed that the coalition was "legitimis[ing] the extreme right in Europe."

Sim, é verdade. A UE tem como demonstrar a um estado membro que algo tem que mudar. Aliás, o Chipre recebeu um ultimato esta semana.

Então, não teria feito muito mais sentido dar este ultimato no início desse período descrito pelo brilhante Schäuble como "durante anos"? Não teria sido muito mais sensato dizer-lhes nessa altura que ou mudam essa brincadeira ou saiem do Euro, porque nós não queremos apanhar por tabela com o vosso risco?

Quem faz a asneira tem responsabilidade, e isso não está sequer em causa. Agora, quem presencia a asneria e, tendo ferramentas para a evitar, nada faz, partilha dessa responsabilidade.

Tudo o resto são teorias. E nem sequer são da conspiração.

Tuesday, March 19, 2013

Bitte, Herr Schäuble...

Decidi emergir...

Sempre achei piada às teorias da conspiração. E sempre achei piada a quem utiliza este termo como um argumento final num debate. Nada como disparar um assertivo "Lá vem mais um com teorias da conspiração" para resolver uma divergência de opiniões. Certamente, toda a gente que hoje se ri das teorias sobre o cancro de Chavez (e não nego o potencial cómico do camarada Maduro) também se devia rir à gargalhada se, há uns meses atrás, lhes dissessem que as vacas relinchavam e os hamburgeres tinham ferraduras. Mas no pasa nada. Teorias da conspiração.

Há uns tempos (mais precisamente em Novembro de 2010), disse isto: "O projecto europeu caminha para o fim. Não será preciso muito tempo para vermos uma Europa dividida, numa aproximação ao mapa político do início do Século XX".

Já na altura, havia outras vozes que o diziam, mas eram irremediavelmente relegadas para o plano da "teoria da conspiração".

Agora, de repente, ergue-se um coro (que nem sequer é das velhas) a alertar para o perigo da medida tomada no Chipre. Vejamos...

A desintegração da Europa. Já começou, pelo menos há 2 anos, e não é com estes líderes europeus sem qualquer qualidade (o que, pelo menos, os coloca ao mesmo nível de qualquer outro produto chinês) que isto se vai inverter. No início do Séc. XX, qualquer aldeola com uma receita diferente para queijos/enchidos invocava a sua "herança cultural única" e criava um movimento independentista, e é para isso que caminhamos novamente. Cada um por si. 

O minar da confiança na banca. Confiança na banca...? Eh eh eh... Sure, asshole, sure...

Agora, vem o uber-alles ministro alemão das Finanças criticar o modelo económico cipriota. Plenamente de acordo. Aliás, chamar-lhe "modelo económico" é demasiado generoso, aquilo é especulação no seu melhor. Mas pergunto - foi feito às escondidas? Andavam cipriotas por esse mundo fora, de saquito de plástico na mão, a vender "Rabanes" e contas bancárias? Caro Wolfgang Schäuble, caíste cá ontem de paraquedas ou andaste a dormir no serviço nestes últimos anos? É que acho piada que venhas falar de "irresponsabilidade", quando tu e todos os teus coleguinhas europeus que estão em cargos de responsabilidade permitiram que tudo isso acontecesse no Chipre.

Aliás, meu caro, és tu quem o diz: "durante anos atraiu capital estrangeiro". Anos... Ora, conta lá à malta, e o que é a gloriosa "União" Europeia fez quanto a isso, "durante anos"?

Saturday, November 12, 2011

Tão a ver? Sei lá...

Já tinha um bocado a ideia que isto era o governo dos tios e das tias, tão a ver?

Aquela ideia que os alunos de topo podiam doar o prémio de mérito a um aluno carenciado deixava claro que, para esta gente, um aluno de topo não pode, certamente, ser um aluno carenciado. Qu'órror!

Depois, a ideia de acabar com carreiras de transporte essenciais a horas verdadeiramente descerebradas. Não há aí grande surpresa. O tios e as tias e os seus amiguinhos não andam de transportes, e no mundo em que vivem, tão a ver, qualquer pessoa que tenha que se deslocar a essa hora tem carro, sei lá, não acham?

E agora... isto.

É que isto de a educação ser para todos também me parece um grande disparate. Então, mas os pobrezinhos estariam melhor se as criancinhas trabalhassem, não é? Assim, ganhavam um dinheirinho, tão a ver, e deixavam de ser pobres, sei lá.

Enfim, isto parece-me uma medida verdadeiramente estúpida e incompetente, mas certamente devo ser eu que vivo num mundo diferente.

Já agora, só para terminar, acho piada o Vitinho andar todo indignado com o comportamento dos PCPs e BEs desta vida, e não comentar, p.ex., isto. Que, aparentemente, na situação em que o país se encontra, é "perfeitamente normal".

Thursday, September 8, 2011

Mais economias (they just keep coming)

E aqui temos mais um corte na despesa.

Que, tal como disse ontem, tem como consequência efectiva o aumento da despesa das famílias.

É bom ver que é para isto que elegemos "os melhores dos melhores". Sim, porque se atribuíssemos as rédeas deste processo a um qualquer arrumador de carros, certamente que ele não seria capaz de se lembrar de medidas tão arrojadas, inovadoras e originais como as que têm desfilado pelos media.

Wednesday, September 7, 2011

Economias

Ontem, até comecei a ver o Vitinho. Mas, como acontece frequentemente quando ele fala, rapidamente senti os neurónios a adormecer.

Do que vi, deu para perceber que, segundo ele, os outros não percebem as questões, pois passam a vida a misturá-las. Bem, pelo que me foi dado a observar, ele também não as deve perceber, pois não responde ao que lhe perguntam.

Uma coisa posso afirmar - o que vimos até agora resume-se a isto:
  • Aumento de receita, à custa de impostos que atingem, na sua maioria, a classe média.
  • Corte de despesa na saúde, educação e Seg. Social. Como estes são sectores essenciais para a maioria da população (e não algo em que possamos dizer "OK, vou passar a utilizar menos"), este "corte" na despesa é, na realidade, um aumento na despesa das famílias. Aliás, a sua real consequência é exactamente a mesma que, p.ex., o aumento na taxa da electricidade, apesar de o mecanismo ser diferente.
Portanto, pessoal, toca a consumir... ou talvez não.


Monday, August 1, 2011

Friends will be...

Não estive a ver em directo. Tenho demasiado respeito pelos meus neurónios.

Mas ouvi o "resumo do jogo" no noticiário. A certa altura, diz assim o Novo Cromo (parafreaseando): "As alterações efectuadas na Administração da CGD não vão aumentar a despesa".

Portanto, meninos, a lição para hoje é: Todo o país foi lançado num esforço cujo objectivo é cortar despesa e aumentar receita. Todo??!! Não! Para um conjunto de indivíduos, aos quais chamaremos apenas "friends" (porque os Novos Cromos dizem que não têm "boys"), o objectivo fica-se por "não aumentar a despesa".

A isto, juntamos o brinde do BPN, a outros "friends".

Se dúvidas ainda havia, rapidamente se dissiparam - os Novos Cromos são iguaizinhos aos Velhos Cromos.

Saturday, July 9, 2011

Ratings & Detonadores

Passam-se dias, semanas, meses... e não há muita coisa para dizer. Não vale a pena estar a papaguear sempre o mesmo.

Porém, ocasionalmente, a realidade oferece-nos algo digno de nota.

2010-07-13: Cavaco Silva: “Não devemos recriminar as agências de rating”
2011-07-08: Cavaco Silva: agências de rating "são uma ameaça"

(O nosso PR bem podia ter esperado mais 5 dias antes de abrir a boca, não é?)

Escolhi este personagem por ser o mais óbvio, mas o que não faltou por aí há uns largos meses foram outros visionários que afirmavam que as agências de rating estavam apenas a fazer o seu trabalho e eram até nossas amigas. Tal como os animais, suponho. Poderia fazer uma qualquer alegre alegoria com um crocodilo, mas repugna-me insultar os pobres répteis.

«O caso da descida de rating de Portugal (...) foi o "detonador que despertou os líderes europeus para enfrentarem o que têm vindo a fazer as agências norte-americanas", considerou o chefe de Estado.»

Ora, se os supra-citados "líderes" precisaram de um despertar, isso parece indiciar que estavam a dormir. Durante o horário de trabalho. Ao longo de, pelo menos, um ano. De tal forma, que só os acordaram com uma detonação.

Folgo em saber que brevemente será mais barato despedir os improdutivos. Sugiro que essa lista seja encabeçada por este conjunto de "líderes".

Em alternativa, posso sugerir outro tipo de detonação, uma "final solution" para todos estes doutos personagens, seguindo esta excelente sugestão, que se mantém actual: