Heh... por onde começar?
A "ciência" económica
Bem, comecemos pelo fantástico "estudo" Reinhart-Rogoff. Sem ser o único estudo que alerta para os perigos do endividamento, é o mais citado, por isso merece o lugar de "honra" que lhe está actualmente reservado.
Vê-se muito comentador ilustre (e muito comentador menos "ilustrado") a falar das virtudes do "estudo", dos vícios do "estudo" ou do facto de as conclusões do "estudo" se manterem válidas.
Mas eu diria que a questão assenta num ponto fundamental: Não se pode chamar ciência à economia.
A verdadeira ciência pressupõe um método científico que testa hipóteses, de uma forma controlada; uma vez estabelecidas relações de causalidade de forma repetível, essas hipóteses poderão dar origem a teorias. A economia massacra números, desconhecendo o que realmente está por trás dos mesmos (sem o controle e o rigor necessários a uma ciência), e cria automaticamente "teorias" que, por serem baseadas nesse desconhecimento, não provam causalidade de espécie alguma, o máximo que conseguem demonstrar é co-relação.
Seria o mesmo que os médicos receitarem sempre um medicamento para a constipação por alguém espirrar, por desconhecerem que a causa dos espirros poderia estar numa alergia. A economia é baseada no desconhecimento.
E isto não vai mudar. Não por os economistas serem menos capazes que os praticantes de outras actividades, mas por a actividade económica incluir um número gigantesco de factores que não são sequer directamente observáveis. É impossível fazer ciência numa situação destas.
Por fim, o problema maior da economia é que testa a validade dessas teorias directamente em seres humanos. E é este o seu único crime. O terrorismo destrói centenas de vidas em segundos; isto destrói milhões de vidas ao longo de anos. Isto não é ciência, é banha da cobra com uma embalagem que representa a melhor credibilidade que o dinheiro pode comprar. Aliás, até comprou um pseudo-Nobel, pago pelo Banco Central Sueco.
Merkel e o salário mínimo
A camarada Merkel volta a atacar. Desta vez disse que um salário mínimo generalizado poderá não ser uma boa ideia, pois não está relacionado com a produtividade. Em vez disso, aceita salários mínimos sectoriais.
Também aponta isto como a razão para a baixa taxa de desemprego na Alemanha. Eu gostaria de acreditar que ela terá dito "uma das razões", mas, vindo de quem vem, não vou arriscar. Either way, é mais um exemplo do pensamento "científico" dos incapazes: Determinar causalidade dá trabalho, portanto fica muito melhor atirar umas larachas. Até lhe dão tempo de antena, e tudo, porque não aproveitar?
Anyway, a ideia em si não me choca, mas acho piada que, quando se fala de rendimento vs. produtividade, se comece pelo salário mínimo. Sim, faz parte do que teria que ser revisto, numa óptica de produtividade, mas há outros pontos mais prioritários. Sugiro a seguinte escala:
- Comecemos por analisar o rendimento da camarada Merkel e dos seus coleguinhas políticos por toda a UE. Qual tem sido a performance da UE? A UE está em ascensão? Boa, aumentem-lhes o salário, que estão a fazer um trabalho admirável; senão, se calhar está na hora da camarada Merkel praticar o que apregoa, começando pelo seu próprio salário.
- Quantas empresas é que criam regra após regra, burocracia após burocracia, em nome de uma suposta gestão de recursos, e da fantástica falác... er, quero dizer, "regra" do "Se não consegues medir, não consegues gerir"? Quanto tempo e quanta produtividade é que se perde devido a isto? Já começaram a "ajustar" o salário destes burocratas empresariais?
- Quando um comercial vende o impossível a um cliente, seja por ignorância, seja por má-fé, está a desestabilizar o funcionamento da sua empresa. Está a colocar um stress desnecessário em toda a gente que vai ter que produzir o que foi vendido ao cliente, ou em quem vai ter que compensar o cliente por ser impossível fazê-lo. Tudo isto vai levar a alterações de planeamento, renegociações, desperdício de tempo e produtividade. Já trataram desta questão?
- Há gestores que baixam o preço do seu produto/serviço para lá do razoável. Depois, para manterem um saldo positivo, cortam no que pagam e/ou na dimensão das equipas que fornecem o produto/serviço. Criam um problema para o qual a única solução que possuem é a frase "Temos que fazer mais com menos". Ou seja, criam um problema que outros terão que resolver. Uma equipa sub-dimensionada deixa acumular trabalho, faz com que situações perfeitamente normais só sejam tratadas quando se tornarem em emergências (porque passa a vida a tratar de emergências) e pode passar mais tempo a reprioritizar tarefas do que a executá-las. Tudo isto é desperdício de tempo e produtividade. E disto, já trataram?
- Há pessoas que não produzem. Seja por falta de formação, seja por falta de "motivação", seja por que motivo for, a sua produtividade é baixa. No entanto, na minha experiência, são muitos os casos em que essas pessoas não sofrem consequências por isso. Porquê? Porque quem as chefia não está para se chatear. Quem as chefia não parece disposto a fazer o seu papel, simplesmente deixa andar e uma vez por ano (para as empresas que têm processos de avaliação) ocorre uma "conversa" sobre um conjunto de objectivos que, por vezes, nem sequer fazem sentido, e fica tudo como dantes. Já trataram de avaliar as chefias que não conseguem resolver o problema dos seus colaboradores?
Foram apenas 5 pontos que me ocorreram, sem ter que me esforçar muito. Depois de tratarem destes, força, vamos lá ao salário mínimo!
Até lá, camarada Merkel, abre mais os olhos e menos a boca.